Resenhas

The Fratellis – In Your Own Sweet Time

Trio escocês volta com boas canções e pouco compromisso

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Ano: 2018
Selo: Cooking Vinyl
# Faixas: 11
Estilos: Rock Alternativo, Pop Alternativo
Duração: 46:20
Nota: 3.5
Produção: Tony Hoffer

Talvez você não lembre, mas o trio escocês The Fratellis foi uma das maiores sensações do Pop Rock mundial em meados dos anos 00. Seu disco de estreia, Costello Music, lançado em 2006, antecedido por três singles matadores, invadiu as paradas inglesas e tirou tinta da americana, especialmente com o irresistível hit Chelsea Dagger, uma esporrenta, porém harmoniosa, mistureba Punk e New Wave, dessas que não surgem com facilidade no mundo musical de hoje. Pois bem, assim como veio, The Fratellis foi – quer dizer, nunca mais os sujeitos fizeram sucesso semelhante, apesar de tentarem de tempos em tempos. Este bom In Your Own Sweet Time é o quinto disco que a banda lança, repetindo o produtor da estreia, Tony Hoffer, com a missão de encontrar o sucesso que ainda poderiam fazer. Ou algo assim.

A verdade é que The Fratellis tem um grande trunfo em mãos: são excelentes melodistas e têm exata noção de como compor canções que ostentam refrãos feitos com muita artesania Pop dourada, no sentido do Rock anglo-americano de natureza sessentista. Algumas músicas poderiam ser cantadas pelo Van Morrison pop em início de carreira ou por bandas como Small Faces e gente como Elvis Costello, não por acaso, homenageado no álbum de estreia, justamente pelas canções ali contidas lembrarem seu estilo Punk/New Wave erudito e bem humorado. De fato, tudo isso que a banda recupera é tipicamente britânico e busca trazer algumas tradições melódicas que são típicas de torcidas de futebol, de gente enchendo os cornos em pubs e tudo mais do cotidiano mais clássico da Grã-Bretanha há algumas décadas e que ainda resiste nos dias de hoje. Por isso a sonoridade do trio tem essa pinta de Rock de bar, de Pop nerd, algo que é seu maior charme.

Ainda que este novo disco não tenha um hit certeiro como foi Chelsea Dagger, não faltam pequenas pepitas melódicas. O grupo se permite revestir alguns arranjos com tonalidades Nu-Disco, caso de The Next Time We Wed, que tem baixo proeminente e levada sacolejante o suficiente para fazer pessoas normais não conseguirem evitar o movimento. Told You So é um ótimo exemplo de popão dourado e implacável, com refrão onomatopaico e levada que privilegia guitarras base e uma bateria que parece feita de concreto, marcando o ritmo e dando espaço para o acompanhamento via palmas. Além disso, o arranjo tem total foco nos anos 1960, algo que a banda resolve abraçar com carinho por aqui. Starcrossed Losers também vai por este caminho, privilegiando um Rock de guitarrinhas fluidas que lembra Brown Eyed Girl, sucesso mundial do já citado Van Morrison.

O potencial de suas canções para a dança não foi esquecido por The Fratellis. Laughing Gas, como o título sugere, foi feita e gravada com o objetivo de, pelo menos, colocar um sorriso no rosto do ouvinte, em meio a guitarrinhas primordiais e ritmo rapidinho. Adevaita Shuffle é Glam Rock repaginado e refeito para os nossos tempos, algo que soa bastante legal e onde a produção de Hoffer faz a diferença. Outra canção que visa as lantejoulas e o glitter é I Guess I Suppose, um boogie que faz bonito entre teclados e baixos com função rítmica definida. Indestructible dá uma passada rápida no início dos anos 1990 mas sua levada soa mais atemporal. Encerrando os trabalhos, a climática tentativa de Rock psicodélico de quase sete minutos, I Am That, que é um baita anti-climax, ainda que seja legal, mas acaba parecendo uma sobra de estúdio do Oasis de 1999.

The Fratellis é garantia de boas composições, sempre. Os sujeitos têm a manha e a usam com inteligência em seus álbuns. Talvez nunca mais consigam escrever um sucesso mundial, mas sempre oferecerão umas três, quatro canções para animar sua festa ou bebedeira. Que banda consegue fazer isso hoje, sem problemas, sem cabecismos? Um bom disco para animar o seu dia.

(In Your Own Sweet Time em uma música: Starcrossed Losers)

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.