Resenhas

Animal Collective – The Painters

EP traz relativo conforto ao experimentalismo caótico de outrora

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Ano: 2017
Selo: Domino
# Faixas: 4
Estilos: Psicodelia, Pop Experimental, Indie Eletrônico
Duração: 13:00
Nota: 3.0

Não vale a pena criar expectativas sobre Animal Collective. Não que nós iremos nos decepcionar, mas pensar que vamos conseguir criar uma visão concreta dos lançamentos futuros da banda é inútil. Na verdade, quando paramos para ouvir algo novo, somos catapultados para uma noção totalmente oposta àquela que teríamos previsto. Dessa forma, o conjunto consegue se manter relevante há quase vinte anos, trilhando um caminho imprevisível de experimentalismo que hora ou outra transborda essa criatividade para outros projetos solo de seus integrantes. Em seu último disco de estúdio, a banda tentou trazer elementos desconcertantes a favor da psicodelia extremamente densa que construiu e consolidou em sua carreira. Agora, a extensão deste conceito do “insuportável lisérgico” se revela no EP The Painters, entretanto com uma intensidade bem menor.

O EP traz um pouco menos de imprevisibilidade do que era esperado, pincelando as quatro faixas com um toque bastante nostálgico de sua obra prima Merriweather Post Pavilion, de 2009. Há aquele apego clássico pela percussão forte que não necessariamente impõe uma estrutura rígida e imutável às vozes e arranjos: o ritmo está lá para ser ultrapassado e, até mesmo ignorado. Os timbres são bem menos intensos do que no último disco e as vozes têm uma função bem mais instrumental do que simplesmente servir como plataforma para as letras. Em resumo, é um disco bem típico de Animal Collective o que, por um lado, é bom, pois traz aquela sonoridade conhecida e fantástica, mas também traz uma razão para ficarmos menos ansioso por novos registros, uma vez que parece que a fonte de criatividade parece estar começando a secar.

Pode ser apenas um indício, ou uma interpretação errônea, afinal, temos bons exemplos de composições bem produzidas e arranjadas. Kinda Bonkers e Peace Maker se utiliza de uma percussão quase mântrica para criar um sentimento de deja vú. Já Goalkeeper e Jimmy Mack tenta retomar aquele desconcerto que nos faz ser tão fascinados por Animal Collective, mas o faz de uma forma que torna bem estreito o limite da confusão e do caos proposital. De qualquer forma, é um registro interessante dentro do universo da banda que certamente agradará seus fãs. Quanto ao público menos familiarizado, pode haver certas indagações com relação a esse EP ser parecido demais com outras obras.

Assim, a banda continua seu laboratório experimental de caos, ironicamente, sem muitas surpresas.

(The Painters em uma faixa: Kinda Bonkers)

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Autor:

Produtor, pesquisador musical e entusiasta de um bom lounge chique