Resenhas

Belle and Sebastian – Late Developers

Banda escocesa mantém atmosfera “pós-pandemia” do disco anterior, mas adiciona esperança e harmonias vocais festivas

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Ano: 2023
Selo: Matador Records
# Faixas: 11
Estilos: Indie, Indie Pop, Indie Rock
Duração: 42'
Produção: Belle and Sebastian, Brian McNeill, Kevin Burleigh, Matt Wiggins e Wuh Oh

É difícil, quiçá impossível, falar de Late Developers sem retomar o raciocínio de A Bit of Previous, visto que Belle and Sebastian lançou os dois discos com apenas oito meses de diferença. Ou seja, se o grupo se transformou naturalmente ao longo de sua discografia, temos aqui a mesma banda de seu álbum anterior, em seu mesmo momento.

E a época na qual Late Developers chega ao mundo é a de um grupo maduro pelos anos juntos na estrada, pelos anos de vida e, inegavelmente, influenciado pela pandemia e tudo o que ela trouxe, das consequências do isolamento aos traumas coletivos. Diante de e após tantas dores, o ânimo para cantar, dançar e sorrir parece ter sido renovado.

Belle and Sebastian nunca foi tão cheia de “nãnãnã” nos refrãos, com harmonias feitas por muitas vozes e uma pulsão de vida que nunca abandona o disco. A abertura do álbum com “Juliet Naked” pode até acenar no início a um momento mais cínico e obscuro da banda ou do próprio indie, mas há uma melodia tão bem demarcada, e uma intenção de dialogar com um cancioneiro popular que vai te fazer cantar junto desde a primeira vez que você escuta. Tudo isso é um convite para o ouvinte se unir à festa, apesar da atmosfera quase sombria da faixa, ou da pose que a banda já teve no imaginário coletivo.

“Give a Little Time”, na sequência, explicita a farra com direito a palmas que acompanham o ritmo – e que certamente serão imitadas pela plateia nos shows. “When We Were Young” repete o flerte com elementos eletrônicos que a banda vem realizando nos últimos shows, enquanto “I Don’t Know What You See in Me” tem aquele Belle and Sebastian das antigas em seu DNA, mas revestido de um aspecto dançante que é tão divertido quanto cafona. Em todos os casos, nossos sorrisos são garantidos.

A música “Late Developers”, que encerra a obra, convida instrumentos de sopro para construírem uma atmosfera ainda mais leve e colorida, contrastando com as sombras da primeira faixa. Seria interessante mostrá-la a alguém que acompanhou a banda nos anos 1990, mas que não acompanhou o desenvolvimento de sua narrativa ao longo das décadas. A dúvida é se essa pessoa se espantaria com o clima propositalmente festivo da canção, ou se reconheceria Belle and Sebastian na identidade ostentada por versos como “Have you thought of this?/The object of your love/Prob’ly don’t exist”.

Já os que acompanham os passos que o grupo escocês deu ao longo de sua história encontrarão exatamente aquilo que esperam: boa música construída por anos e anos de experiência, e pelas experiências que os últimos anos nos deram no coletivo. É simbólico, é relevante e é o que qualquer fã da boa música merece escutar neste 2023 que se inicia.

(Late Developers em uma faixa: “Give a Little Time”)

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Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.