Não existe instrumento mais potente e completo do que nossa própria voz. Por mais que possamos aplicar efeitos e mais efeitos para distorcer guitarras, experimentalizar sintetizadores e agravar, nossas cordas vocais são capazes de expressar com um dinamismo ímpar os mais variados sentimentos. Talvez, pelo fato de ser um instrumento nato, cuja comunicação com o cérebro se dá bem mais diretamente do que algum instrumento externo, ela é companheira íntima de nossos imaginários e, mesmo que alguém se considere um péssimo cantor, ainda assim será a detendora da melhor interpretação de sua criatividade. Francisco, El Hombre não é um caso de péssimos cantores. Não mesmo. Aqui a história dos irmãos Sebastián e Mateo é sintetizada em seis faixas e o grupo vocal harmônico formado pelos demais integrantes, torna a performance bastante potente.
La Pachanga é o segundo EP dos irmãos, que não se envergonham em assumir sua identidade mexicana e mostrá-la com muito orgulho. As faixas aqui assumem o que podemos considerar estereótipos da cultura mexicana, sem soar em momento algum como algo caricato e sim um retrato sincero de impressões, sentimentos e narrativas que nos instigam e estimulam nossa imaginação enquanto ouvintes. Além das belíssimas linhas instrumentais de violão, os vocais ganham um destaque grande neste trabalho. Lembrando uma espécie de Fleet Foxes latino, no qual o reverb é menos explorado, mostrando mais os belíssimos timbres de todos os cantores e instrumentistas.
É curioso notar que, embora sejamos instigados a lembrar quase que imediatamente da cultura mexicana, o que realmente chama a atenção no relativamente curto EP é que Francisco, El Hombre é um conjunto de grande personalidade e a cultura na qual está inserida é apenas um pano de fundo. A banda conta belíssimas histórias em suas faixas, tendo como destaque Para Além da Pora (O Mundo) e suas belíssimas harmonias, a animada e explosiva Dicen e, por último, Brindizino, uma canção que parece ter sido reproduzida ao vivo e que reúne a energia de todos os cantores, como se fosse um canto cigano em volta de uma fogueira.
Um trabalho bastante curioso, ao mesmo tempo que instigante, como já dito. A possibilidade de um disco de estúdio nos deixa ansiosos por novas possibilidades, novas rimas e novos mundos a serem explorados. Uma celebração no sentido mais amplo da palavra.