Resenhas

Kokoroko – Could We Be More

Aguardado primeiro disco do octeto é mais uma demonstração de força do atual (e fervilhante) jazz londrino

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Ano: 2022
Selo: Brownswood Recordings
# Faixas: 15
Estilos: Jazz, R&B, Afrobeat
Duração: 48'
Produção: Miles Clinton James

Kokoroko, mais uma banda do fervilhante cenário do jazz londrino, chamou a atenção ainda em 2018, com o ótimo single “Abusey Junction” – e manteve o interesse de público e crítica com um EP lançado no ano seguinte. Na época, o octeto capitaneado pela trompetista Sheila Maurice-Grey garantia os holofotes por sua mistura única entre jazz, R&B, highlife e afrobeat. Em seu aguardado disco de estreia, We Could Be More, o grupo supera as expectativas.

O registro conta com 15 faixas no total, mas não chega a passar dos 50 minutos de duração, passeando por diversos ritmos e vibes. Sobretudo, é um disco que explora a história dos próprios músicos, todos descendentes de famílias vindas da diáspora africana. Completam o grupo a saxofonista Cassie Kinoshi, o trombonista Richie Seivright, a percussionista Onome Edgeworth, o tecladista Yohan Kebede, o guitarrista Tobi Adenaike-Johnson, a baixista Duane Atherley e o baterista Ayo Salawu. Cada um, a seu modo, acende nova centelhas da música africana, que se agregam ao já grandioso som da banda.

Além da mistura presente em Abusey Junction, o grupo investe em novos elementos. Como em “Ewà Inú”, que tem a percussão Yoruba no centro de seu desenvolvimento, ou “Dide” que soa como uma aventura blues pelos metais, enquanto brinca com o highlife em suas guitarras e com o gospel nas vozes. Em “Soul Searching”, o octeto coloca as percussões afro-cubanas em contato com o afrobeat e o próprio highlife, e “We Give Thanks” parece buscar inspiração em ritmos congoleses, além de flertar com o funk. “These Good Times” tem Sheila assumindo os vocais em meio a guitarras latinas e beats que bebem de referências nigerianas. “Something’s Going On”, espécie de resposta a “What’s Going On”, de Marvin Gaye, traz coros gospel, metais de jazz, além de um clima soul. Mistura ousada e sólida.

Não à toa, lá em 2018, a canção que catapultou a carreira do grupo estava presente na coletânea UK jazz renaissance. Parece ser exatamente esse o intuito da banda aqui – imaginar um renascimento não apenas do jazz inglês, mas das raízes negras do jazz inglês. E mais do que simplesmente jogar no colo do ouvinte esse bando de referências, o octeto cola tudo isso com o que há de mais quente sendo produzido em terras britânicas. É um encontro e tanto entre tradição e modernidade e, especialmente, um ensinamento sobre ancestralidade.

(Could We Be More em uma faixa: “Something’s Going On”)

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ARTISTA: KOKOROKO

Autor:

Apaixonado por música e entusiasta no mundo dos podcasts