Resenhas

Leon Bridges – Gold-Diggers Sound

Terceiro disco do prestigiado músico americano apresenta R&B despido de excessos e flerta brilhantemente com o Pop

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Ano: 2021
Selo: Columbia Records/Sony
# Faixas: 11
Estilos: R&B, Neo Soul
Duração: 36'
Produção: Ricky Reed e Nate Mercereau

Leon Bridges não errou em Gold-Diggers Sound, a terceira entrada de uma discografia ímpar que deu ao músico status de “promessa cumprida” na música americana de hoje. Com o novo álbum, ele parece ter chegado ao presente após visitar épocas que não viveu nas obras anteriores. E o que ele entrega é um R&B despido de excessos e sem medo de flertar com o Pop. Isso dá a Leon um lugar à mesa da música contemporânea que sua persona nostálgica, quase perdida no tempo, não lhe permitia. Ainda que musicalmente excelente, havia uma dissonância entre composições tão sensíveis e a forma com que o músico se apresentava, mais personagem do que persona. Neste novo trabalho, ele aproveitou o momento da música de hoje, que se inspira no passado com uma naturalidade distante da caricatura com a qual ele já trabalhou, e recalibrou sua proposta estética. As raízes são as mesmas, mas os olhos miram o agora.

É importante dizer isso para quem acompanhou, mesmo sem muita atenção, seu trabalho ao longo dos últimos anos como um artista muito interessante que transitava pelo circuito alternativo. No movimento de combinar suas predileções com a música de agora, Leon explorou de vez seu potencial e fez um disco intimista, de proposta artística específica e absolutamente autoral, mas sob medida para o mainstream. E isso é ótimo.

Gravado no lendário estúdio que batiza a obra, Gold-Diggers Sound dá ao ouvinte poucos instrumentos de cada vez, em um refinamento impressionante da produção, que trabalha voz e arranjos de maneira caprichosamente Pop. Leon é o grande protagonista do disco, com sua voz sempre em primeiro plano por cima de uma sonoridade calorosa, que preenche todo o espaço sem qualquer sobra. A guitarra é sempre charmosa, ainda que um tanto discreta, e os instrumentos de sopro aparecem aqui e ali como breves adornos que adicionam cor e volume às canções no mesmo espírito “sob medida” que paira sobre a obra.

Não é um trabalho de experimentações, de tentar reinventar algum gênero ou de desafiar o ouvinte com algo novo. Mas é uma obra que resgata não o som do passado em si, mas o que Leon Bridges já mostrou que sabe fazer, e reorganiza sua musicalidade para um público muito maior do que antes. “Motorbike” e “Sweeter”, por exemplo, dialogam com o Pop de hoje em dia sem perder o jeitão vintage nas escolhas dos timbres. “Why Don’t You Touch Me”, por sua vez, é a baladona hit atemporal e sem data de validade, se comunicando com os trabalhos anteriores do músico e com um sem número de canções amorosas do repertório R&B norte-americano.

Faixas como “Sho Nuff”, “Don’t Worry” e “Magnolias” talvez nunca tenham o êxito comercial que essas antes citadas, mas são as que dão grande fôlego à audição do disco e as que melhor reforçam sua proposta – explorar o encanto do grande estúdio à moda antiga em gravações que se comunicam bem com o hoje. Em uma certa ironia da vida (e do mercado), parece ser o trabalho que melhor alça Leon ao local que ele por tanto tempo tentou emular: o do músico que habita nosso imaginário como figura que transita entre o ideal plastificado e o porta-voz dos sentimentos que compartilhamos. No fim das contas, é um caso de “seja você mesmo” que deu muito certo e que deve impulsionar de vez sua já celebrada carreira.

(Gold-Diggers Sound em uma faixa: “Sho Nuff”)

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ARTISTA: Leon Bridges

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.