Resenhas

Marika Hackman – Big Sigh

Quarto álbum da artista inglesa é mais sóbrio (e sombrio) do que seus antecessores e se desenrola em arranjos melancólicos e discretos

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Ano: 2024
Selo: Chrysalis Record
# Faixas: 10
Estilos: Indie Pop, Indie Folk
Duração: 35'
Produção: Marika Hackman, Sam Petts-Davies e Charlie Andrew

Apesar de Marika Hackman acumular mais de uma década de carreira, foi somente com seu penúltimo lançamento, Any Human Friend (2019), que a cantora inglesa conseguiu se catapultar para além de seu nicho e se consolidar como uma trovadora do indie pop moderno. Aquele foi um disco de término, no qual ela detalhou sua intimidade, expondo sem hesitar inseguranças e ansiedades. Ainda que carregada de confusão, a autoanálise trazia algo de libertador – o que não acontece em seu novo registro, Big Sigh.

A honestidade ainda dá a tônica da obra de Marika, que mais uma vez se rasga em frente ao ouvinte, espalhando suas vísceras em frente aos olhos de quem quiser assistir. “My heart won’t grow with your fingers down my throat”, canta ela em “Hanging”, faixa que, como boa parte das canções aqui, parece se dirigir a um novo velho amante. São imagens de violência emocional pintadas sobre o corpo da cantora, que usa em suas letras diversas metáforas corporais para relatar momentos desse relacionamento – “You called me dolly and cut my hair / You plucked my wings off and I went slack”, ela canta em “The Yellow Mile”.

Cada som aqui parece amplificar os sentimentos do repertório. Ao contrário de seus discos anteriores, Marika toca quase todos os instrumentos presentes no registro (exceto metais e cordas), além de atuar na produção – ao lado de nomes como Sam Petts-Davies (que já trabalhou com Thom Yorke e Warpaint) e Charlie Andrew (Alt-J e Wolf Alice). Sóbrio e sombrio, o álbum se desenrola em arranjos mais melancólicos, quase discretos. Há espaço para a contemplação, no qual o silêncio e a solidão são os principais ingredientes das músicas. Mas ainda há espaço para explosões mais raivosas (em faixas como “No Caffeine e “Slime”) ou para belas orquestrações (como em “The Ground”).

Entre pianos singelos e momentos de pura catarse, Marika usa as canções de Big Sigh para sublimar as dores de anos de desconforto. “Please Don’t Be So Kind” surge como clímax dessa narrativa ao traz uma letra simples, que ganha, porém, cada vez mais potência ao ser repetida, imprimindo novos traços de angústia e desespero nos momentos em que o refrão é recitado mais uma vez. São pouco mais de 35 minutos em que Hackman minuciosamente se abre e se costura em nossa frente com uma honestidade que chega a ser brutal.

(Big Sigh em uma faixa: “Please Don’t Be So Kind”)

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Autor:

Apaixonado por música e entusiasta no mundo dos podcasts