Resenhas

Marika Hackman – Covers

Artista britânica se mostra à vontade ao apresentar versões de nomes como Elliott Smith, Beyoncé e Grimes e indica possíveis novos caminhos sonoros de sua carreira

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Ano: 2020
Selo: Sub Pop Records
# Faixas: 10
Estilos: Folk, Folk Eletrônico
Duração: 30'
Produção: Marika Hackman

É interessante a perspectiva de investigar algo já conhecido em busca do novo. Soa dicotômico, mas é um processo criativo de grande liberdade para os artistas: o exercício de revisitar algo que já existe é, por naturezam um processo de incorporar novidade ao que já existe.

O título Covers é autoexplicativo, e seu propósito é o que a introdução acima indica. Nele, Marika Hackman compilou gravações de outros artistas realizadas durante a pandemia em sua busca por novas sonoridades. O resultado, mais do que apontar novos caminhos à estética da cantora, é um trabalho intimista que revela as predileções da artista, tanto naquilo que ela mais ouve quanto, é claro, na direção que seus próximos trabalhos devem seguir.

Uma breve leitura nas resenhas dos lançamentos anteriores de Marika no Monkeybuzz mostram o quanto suas obras costumam ter um cunho estético muito bem definido, seja no Folk com o qual ela ficou conhecida ou o Rock Alternativo em I’m Not Your Man (2017). Em Covers, ela convocou David Wrench, que coproduziu seu Any Human Friend (2019), para mixar suas gravações caseiras, introspectivas e consideravelmente minimalistas, que flertam com o tom melancólico de seus primeiros trabalhos e adicionam elementos eletrônicos, adicionando volumes à junção de voz e violão.

No repertório, ela misturou músicas amplamente conhecidas por seu público – como “Between the Bars” (Elliott Smith) e “You Never Wash Up After Yourself” (Radiohead) – e até mesmo além dele no encerramento com “All Night” (Beyoncé). As novas versões mostram a fluência com que Marika trabalha essa atmosfera intimista, aplicando suas habilidades a composições que grande parte dos ouvintes sabem cantar de cor. São bonitas, mas escolhas que não surpreendem por sabermos que uma busca no YouTube mostraria já as mais variadas versões para essas faixas.

Os melhores momentos do disco surgem quando ela olha não “para cima”, mas para quem está do seu lado. Com a mesma propriedade com que trata esses, digamos, “hits”, ela regrava Sharon Van Etten (“Jupiter 4”), Alvvays (“In Undertow”) e MUNA (“Pink Light”), outras vozes – femininas, não por acaso – de sua geração em interpretações atenciosas, com versos cheios de emoção e arranjos que favorecem suas narrativas. Elas dão a sensação de estarem mais próximas daquilo que veremos a artista britânica realizando na próxima temporada.

Um ponto fora da curva é sua releitura de “Realiti”, um dos melhores momentos da carreira de Grimes em uma versão que mantém uma certa ingenuidade Pop da origina,l com um novo sentimentalismo para versos como “’Cause your love kept me alive and made me insane”. Diferente das outras do disco, é uma música que tem significado expandido ao adentrar o universo de Marika Hackman – coincidentemente escrita por um dos maiores expoentes da sonoridade Eletrônica que a artista hoje estuda.

Ao final da audição, Covers se mostra como um trabalho agradável para o ouvinte e bastante frutífero para Marika enquanto exercício criativo. Ela se mostra à vontade com a nova sonoridade, e será interessante ver como ela aplicará os novos aprendizados em suas próprias composições, após revisitar músicas que foram formativas em seu desenvolvimento e também as faixas de pessoas com quem ela divide palcos. Não dá para chamar de “spoiler”, mas é uma maneira de espiarmos o que Marika reserva para o futuro e suas novidades propriamente ditas.

(Covers em uma faixa: “Realiti”)

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Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.