Quais são os critérios que você usa para compor a maneira com que você enxerga um artista, uma música ou um disco? Não é arriscado propor que três fatores entrem em jogo para sacar o que alguém produziu: Letras, estética e personalidade. E, mais uma vez, Nana mostrou que seu trabalho é completo nas três frentes.
Os versos de CMG NGM PDE, seu segundo álbum, trazem um alto grau de oralidade, como se a cantora baiana estivesse conversando com o ouvinte enquanto entoa pequenas narrativas e ideias sobre situações cotidianas que parecem habitar sua memória do Brasil – ela mora há alguns anos na Alemanha – e experiências que teve sobretudo no Rio (Menino Carioca, Rua Paysandu e Copacabana explicitam isso). Suas letras vão de poéticas simples como “tem tanta lágrima no mar que outro adeus não vai matar” a construções bastante prosaicas, como “se eu te peço nudes, você não dá/se te faço um convite, você tem que visitar a sua vó que mora em Blumenau/mas é cara de pau, miau, miau”.
Talvez por esse saudosismo em relação à terra natal, talvez por uma identificação mais brasileira que vive hoje, Nana resgata o clima de Sambas antigos e daquela MPB descendente da Bossa Nova e coloca essa vibe em uma esfera Eletrônica, com uma carga mais sintetizada em alguns momentos do que em outros. Há um clima meio oitentista à la Mahmundi aqui e ali (como na faixa-título), assim como uma pegada mais “banda”, de baixo pulsante, em outros pontos (por exemplo, na segunda metade de Caoutchouc, dueto com Felipe S.).
Tudo isso converge na identidade da artista – não apenas sua figura como pessoa, mas também uma personalidade que o disco em si carrega -, com as características de Pequenas Margaridas , seu disco de estreia, sendo desenvolvidas. Novamente, percebemos uma figura sensível, ainda que bem humorada, atenta aos detalhes e disposta a compartilhar sensações boas com o ouvinte.
Tempos depois de ouvir CMG NGM PDE, pode ser que o ouvinte se esqueça de uma ou outra característica dessas que a obra carrega, mas cabe direitinho na memória a impressão de quem Nana é enquanto artista, assim como o prazer de ouvir suas músicas.
(CMG NGM PDE em uma música: Copacabana)