Lá se vão mais de 50 anos de carreira e inesgotáveis canções na trajetória de Neil Young. Inesgotáveis não só por conta da imensa quantidade de coisas que o músico produziu, mas também em termos de quanto insumo sua poesia pode oferecer, ou seja, do quanto suas composições ainda são capazes de brilhar, mesmo tanto tempo depois de terem sido feitas.
A sensação é um pouco a de se ler um mesmo livro em diferentes épocas da vida. Novos detalhes aparecem, coisas antes ignoradas de repente se destacam e, enfim, do mesmo pedaço de papel, histórias escondidas surgem dentro de outras histórias. “Old man look at my life, I’m a lot like you were” cantava um jovem Neil Young nos anos 1970. Agora, ele assume um papel de interlocutor de si mesmo, regravando algumas composições de sua carreira em formato acústico.
Em Before and After, o quadragésimo quinto álbum de sua carreira, existe um pouco dessa “inesgotabilidade”, mas existe também um aval que Neil Young se concedeu para fazer o que quiser, dado o seu status de entidade musical. O homem é prolífico e não para nunca de fazer, produzir, engajar coisas novas. Neste lançamento, ele faz uma “autocuradoria”, escolhendo canções mais “lado b” de seu catálogo. Agora, violão, piano e gaita substituem a eletricidade de outrora e ocupam os lugares protagonistas que têm direito na carreira do velho.
As músicas que vêm de diferentes pontos de sua carreira, vão de raridades de sua carreira solo até coisas pinceladas da Buffalo Springfield. A mixagem coloca tudo numa dimensão despretensiosa e urgente, os trastejados do violão estão aparentes e contrastam com a voz ainda límpida. O pressuposto parece ser que o que importa é a poesia em si. Mais do que arranjos e ornamentos, vale a própria presença de Neil Young.
É claro que Neil Young aproveita para militar um pouco em suas causas de praxe, a favor de causas ambientais e também contra a lógica neoliberal dos streamings e seus algoritmos. Segundo ele, Before and After é um disco feito para ser ouvido de uma só vez, como se fosse uma única grande canção, com uma parte se encaixando na outra, perdendo um pouco o sentido se for picotada em faixas singulares. Nesse sentido, é também um trabalho que preza por um aspecto artesanal.
Em geral, Before and After não é um ponto fora da curva na discografia do músico, mas serve como um agrado aos fãs e mais aficionados pela sua carreira. E, de qualquer maneira, as histórias e lições de vida de Neil Young, agora revisitadas pela sua sapiência acumulada, aqui ganham uma contundência gravitacional.
(Before and After em uma música: “Mr. Soul”)
