Resenhas

Neil Young / Crazy Horse – Colorado

Ainda com fôlego, o lendário norte-americano retoma assuntos caros a seu repertório em LP autorreferencial, mas brilhante

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Ano: 2019
Selo: Reprise
# Faixas: 10
Estilos: Folk, Americana, Rock
Duração: 50'
Produção: John Hanlon, Neil Young

Mantendo sua média extensiva de lançamentos, que ostenta desde o final dos anos 1960, o velho Neil Young dá as caras novamente com o seu novo trabalho Colorado. Aqui, a banda Crazy Horse volta a acompanhá-lo, coisa que não acontecia desde 2012. Ao longo dos anos, já pudemos perceber que o método e a intenção de Young influenciam o resultado estético dos seus discos. Obviamente, não há nada de errado nisso, mas muitos lançamentos do artista dos últimos anos soam como registros casuais, uma captura momentânea de um exercício contra o ostracismo. Colorado, seguindo essa linha de pensamento, traz consigo uma autorreferencialidade nostálgica, mas resgata uma chama do passado que ainda brilha insistentemente.

Colorado possui a receita dos velhos tempos, exibindo o espírito Folk Americana do artista, trazendo para a ribalta timbres de gaita, violão acústico e longos solos de guitarra. Mais do que isso, volta a dissecar velhos temas caros ao compositor. Em suma, o artista declara o seu amor à mãe natureza enquanto dispara bravatas contra o sistema (sendo “Shut It Down” o seu momento mais didático). Young resiste à passagem do tempo ao se engajar nas grandes narrativas de resistência da contemporaneidade, sejam elas ambientais ou sociais. Em “Rainbow of Colors”, por exemplo, exercita o seu apoio à comunidade LGBT. Young fala de um ponto de vista onde assume ser um velho branco, mas sempre posicionado à esquerda do establishment.

O disco brilha em seus momentos mais delicados. Faixas como “Green Is Blue”, “Milky Way” e “Eternity” trazem o mesmo DNA de momentos icônicos de Young como Harvest Moon ou On The Beach, embora, é claro, não se equiparem a eles. Nestas canções, quando Young é menos literal a respeito de suas letras, parece abrir espaço para que o ouvinte faça suas próprias associações. Paira no ar, por exemplo, a influência de uma nova musa – a atriz Daryl Hannah, com quem casou recentemente –, que resulta nos momentos mais tenros e melódicos do disco. 

Colorado tem esse nome porque foi gravado, ao longo de 11 dias, no estado norte-americano de mesmo nome. Parafraseio o artista certa vez disse “não importa que o resultado seja bom, contanto que o processo de composição faça se sentir bem”. Por conta da altitude geográfica, assim como da idade dos integrantes da The Crazy Horse, que beiram os setenta anos, máquinas de oxigênio foram necessárias na gravação. Apesar do fato, Colorado mostra um Neil Young cheio de fôlego, disposto em sua teimosia, e com muito gás para fazer o que gosta.

(Colorado em uma música: “Green Is Blue”)

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ARTISTA: Neil Young
MARCADORES: Americana, Folk, Rock

Autor:

é músico e escreve sobre arte