Resenhas

Sampha – Lahai

Novo álbum do artista britânico é ainda mais profundo e envolvente do que seu antecessor – e justifica a espera de seis anos

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Ano: 2023
Selo: Young
# Faixas: 14
Estilos: Neo Soul, R&B, Jazz
Duração: 41'
Produção: Sampha

O tempo tem sido uma constante na carreira de Sampha. Já faz quase uma década que o promissor músico surgiu na cena inglesa, por meio de alguns feats com o produtor SBTRKT, até o lançamento do seu primeiro disco oficial, o excelente Process (2017). De lá para cá, são mais seis anos preenchidos por algumas aparições de peso (incluindo discos de Kendrick Lamar e Alicia Keys), mas também de muito silêncio. A passagem do tempo faz com que esse músico, por mais experiente e bem relacionado que seja, esteja chegando a seu segundo álbum só agora.

Lahai, porém, é um testemunho de que a arte de Sampha demanda, de fato, todo esse tempo. É um manifesto de seu crescimento, seja como produtor, cantor ou como veículo para letras cada vez mais introspectivas e profundas. Enquanto Process foi uma reflexão sobre o luto e a perda de sua mãe, a nova obra representa um giro em direção à cura e à aceitação. Em 2020, Sampha se tornou pai e isso surge como um novo prisma pelo qual ele canaliza suas letras e pensamentos. Temas como existência, ciência, família, amor, espiritualidade e o próprio tempo são discutidos ao longo das 14 canções.

Para se debruçar sobre essas questões, Sampha adota uma abordagem lírica quase impressionista, criando imagens emocionalmente conflitantes que refletem uma tempestade de pensamentos advinda de grande introspecção. Essas ideias são lançadas muitas vezes sem que se chegue a conclusões, mas, de alguma forma, nos orientam rumo à luz sugerida pelo álbum. Tudo isso é acompanhado pela voz de Sampha, que oscila entre balanços hipnotizantes e padrões rítmicos encantadores, combinando seu tenor a um falsete etéreo.

A produção continua sendo um dos pontos altos. Suas músicas, frequentemente, nascem a partir de voz e piano e evoluem em meio a batidas e loops eletrônicos, com o uso de eventuais glitches. Talvez a diferença mais marcante de Lahai seja a complexidade rítmica que o álbum alcança, com experimentações oriundas de beats de house e rap, além de elementos de jazz e ecos da África Ocidental. Ainda que sejam novos contornos na obra de um músico que sempre gravitou em torno do R&B, os elementos mais basilares permanecem.

Faixas como “Dancing Circles” nos imergem em camadas de melodias de piano, acordes dissonantes e linhas vocais atmosféricas, com toques sutis de dub. “Only” nos convida a explorar temas como fé, alma e destino, desta vez ambientados nas batidas típicas do rap – permeadas por harmonias vocais de Sampha empilhadas em várias camadas. Sua habilidade em criar labirintos melódicos fica ainda mais evidente em canções como “Suspended”, na qual ele retrata o amor como fuga da escuridão envolto de loops de piano e vozes flutuantes.

Paternidade e família também ressoam em Lahai uma vez que o título não é apenas seu sobrenome, mas o nome de seu avô paterno – há o olhar para o passado e uma conexão constante com o presente. E ele parece ciente que o tempo cura tudo; ou pelo menos no faz olhar para trás de forma diferente, renovada. Aqui, ele serve mais do que como medida – serve como memória e esperança.

(Lahai em uma faixa: “Only”)

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ARTISTA: Sampha

Autor:

Apaixonado por música e entusiasta no mundo dos podcasts