Resenhas

The 1975 – Being Funny In A Foreign Language

Matty Healy e sua trupe atravessam o indie e exploram um refinamento pop que vai da singeleza folk à opulência dos sintetizadores

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Ano: 2022
Selo: Dirty Hit
# Faixas: 11
Estilos: Pop, New Wave, Synthpop
Duração: 43'
Produção: Matthew Healy, George Daniel e Jack Antonoff

Especialmente a partir da metade da década passada, o indie rock, antes visto como voltado a um nicho específico, começava a tomar uma proporção massiva – de repente, o gênero despertava o interesse do lado mais pop do mercado fonográfico. Eis que, dessa leva, surgem compositores e produtores que, mais tarde, seriam responsáveis por definir os sons do pop da década de 2020. Entre eles, dois se destacam: Jack Antonoff, um dos responsáveis por consolidar o revival oitentista, e Matty Healy, cabeça à frente do projeto The 1975. A banda conquistou seu público cedo a partir da mistura entre juventude indie e a produção rebuscada e polida do pop. Era um som que se voltava para arranjos criativos e letras facilmente identificáveis, a partir da exploração de temas como saúde mental. Nessa mistura de indie e pop, Matty Healy encontrou espaço seguro para purgar sua angústia, mesmo que ela fosse exposta ao mundo todo.

Desde sua estreia, há quase 10 anos, a banda tem mostrado a cada novo disco como o pop consegue ser inventivo e fluido dentro das “diretrizes” do indie. Seja no primeiro álbum, 1975, ou nos flertes roqueiros de Notes On A Conditional Form (2020), os discos do grupo vêm sempre munidos de uma criatividade desenfreada. Mas, após quatro projetos experimentando diferentes possibilidades da conexão pop-indie, agora o movimento parece ser outro. Em seu quinto disco de estúdio, a banda explora os mesmos instrumentos, mas busca deixar o pop menos datado e com menos estereótipos de uma época. Being Funny In A Foreign Language abre novos caminhos a partir de referências do passado e vem encapsulado pelo talento do produtor Jack Antonoff. São mestres do pop indie reunidos.

Apesar da parceria inquietante, o centro do disco ainda é Matty Healy e sua poesia compulsiva e ansiosa. Neste disco, a ironia ácida do compositor continua mais viva que nunca, o que faz com que os diálogos e os intertextos potencializem seu discurso. Como de praxe, sintetizadores nostálgicos continuam como uma das principais bases para as composições. No entanto, eles não se concentram apenas em ecos da disco e do synthpop. Neste trabalho, o pop da virada do milênio (de boybands como Westlife, Backstreet Boys) compartilha espaço com o romantismo sofrido do folk dos anos 1970. Em um grande caldeirão de referências, The 1975 continua em uma missão exploratória que caminha entre o saudosismo e a experimentação.

A faixa de abertura, como de costume, se chama “The 1975” – como é feito em todos os discos da banda até aqui –, porém executada de forma surpreendente. Demonstração de como a mesma mensagem pode ser replicada de maneiras diferentes por Matty Healy. “Looking For Somebody (To Love)” tem a energia do típico verão americano, numa mistura de lindas paisagens com um coração partido. “Oh Caroline”, por sua vez, também fala de amor, de paixão e de como abraçar cafonices não impede que a mensagem seja sincera. “All I Need To Hear” viaja da era digital rumo ao folk dos anos 1970 – o que direciona a flecha da sofrência diretamente ao peito. “Human Too” é a faixa mais experimental do disco, indo para um lado mais ambient, sem sacrificar a estrutura pop. Ao fim do disco, a banda se volta novamente para o folk, adicionando um toque de country perfeito para encerrar este passeio por diferentes épocas.

Apesar de vagar por diferentes períodos e ecos musicais, The 1975 se mantém fiel à sua sinceridade efusiva e tão essencial em Being Funny In A Foreign Language. Seja colhendo referências sintéticas do pop-boy-band da virada do milênio ou se voltando a cacoetes do folk setentista, Matty Healy consegue capitanear um repertório coeso e de conteúdo pessoal. E o quinto disco da banda é mais um ótimo representante de como o pop pode propor novos diálogos, soando nostálgico e, ao mesmo tempo, contemporâneo.

(Being Funny In A Foreign Language em uma faixa: “Oh Caroline”)

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ARTISTA: The 1975

Autor:

Produtor, pesquisador musical e entusiasta de um bom lounge chique