Resenhas

Wild Nothing – Hold

Com sintetizadores brilhosos e melodias cativantes, quinto álbum do projeto de Jack Tatum elabora questões pessoais de forma sutil e envolvente

Loading

Ano: 2023
Selo: Captured Tracks
# Faixas: 11
Estilos: Indie Pop
Duração: 40'
Produção: Wild Nothing

Quando o presente se revela tão incerto e caótico, a nostalgia é como um refúgio fácil, uma jornada à versão idealizada e higienizada de um passado que ganha vida apenas em nossas mentes. Jack Tatum, nome por trás do projeto Wild Nothing, sempre flertou com certa essência nostálgica em seus quatro álbuns anteriores e com Hold, seu mais novo trabalho, não seria diferente. Porém, essa imersão em timbres exagerados do synthpop dos anos 1980 e 1990 parece ser mais do que uma escolha deliberada – parece fruto de uma fina ironia.

Como boa parte dos lançamentos que vimos ao longo do último ano, este é um daqueles discos pandêmicos, que foram germinados durante um período de isolamento social e de mudanças bastante radicais na vida de todo mundo – imagine agora que você é um músico e seu ganha-pão depende de aglomerações. Agora, some a essas incertezas o nascimento de um primeiro filho e a mudança de volta para sua terra natal (Tatum saiu de Los Angeles e voltou para Richmond, Virginia). Hold nasce de todas essas mudanças, bem como surge de uma reavaliação das prioridades de Jack. E o que poderia ser um disco profundamente meditativo e introspectivo, se torna uma obra vibrante, carregada com sintetizadores brilhosos e melodias cativantes.

O músico explora aqui não só muitos timbres e sonoridades diferentes (desde algo à la Peter Gabriel (em “Pulling Down the Moon (Before You)”) até algo mais próximo a Kate Bush em “Presidio”), como também assume o controle total de sua obra – essa é a primeira vez que Tatum produz um disco próprio desde de 2010 (com Gemini). O resultado dessas experiências se mostra num maximalismo pop que abraça a nostalgia, mas que se sintoniza a possibilidades da contemporaneidade. É um refúgio no pop oitentista que aponta para questões atuais – da ansiedade relacionada às mudanças climáticas a reflexões sobre paternidade; do peso do arrependimento nas grandes decisões de vida a questões envolvendo seu casamento.

Hold não é apenas mais um capítulo da devoção do músico ao pop, mas um caminho do que o Wild Nothing pode se tornar enquanto projeto musical. Essa sensibilidade pop de Tatum transborda em cada uma das canções, transcende a nostalgia pela nostalgia, redundando em uma obra que, apesar das temáticas, não é melancólica ou escapista. Ao pintar seus problemas com cores neon, Tatum não os faz desaparecerem, mas, de maneira irônica, os destaca. Jack joga luzes sobre suas questões pós-pandêmicas e revela a capacidade de elaborar aflições de maneira leve.

(Hold em uma faixa: “Suburban Solutions”)

Loading

ARTISTA: Wild Nothing

Autor:

Apaixonado por música e entusiasta no mundo dos podcasts