Quando “Sinatra Drive Breakdown” chega ali ao seu primeiro minuto de duração, a impressão é a de que This Stupid World já está tocando há um bom tempo, e não em sua primeira faixa. A sensação se alonga por certo tempo (e não só porque a música tem sete minutos de duração), no contraste das guitarras ruidosas com a doçura das vozes, como se aquele som já estivesse dentro do ouvinte e a faixa apenas servisse como desculpa para que essa sonoridade viesse à tona. Pode parecer confuso, mas quem acompanha Yo La Tengo vai entender.
Já adianto o que poderia ser a conclusão deste texto: a sensação tem a ver com a banda estar sempre em movimento, desenvolvendo seu trabalho faixa a faixa e disco a disco há quase 40 anos – tempo (muito) mais do que suficiente para estabelecer uma estética, ou uma identidade, que faça com que cada uma de suas novas músicas seja naturalmente uma continuidade do que foi feito. A altíssima qualidade do trabalho evita o tédio que a repetição poderia ter.
“Fallout”, por exemplo, é tão familiar para quem conhece a banda que até parece uma regravação. “Aselestine” pode não passar a mesma impressão, mas é aquela balada tranquila que você já imagina que Yo La Tengo coloque em um disco. Em ambos os casos, entretanto, a vontade é que você encontre mais músicas assim ao longo do repertório. A boa notícia é que, sim, a vibe permanece mesmo com um “lado-B” que se permite trilhar um ou outro caminho.
“Until It Happens” vem com carga autoral bastante interessante e faz as vezes de abertura para esse segundo momento do disco com uma energia meio punk e meio minimalista ao mesmo tempo, com uma proposta interessante para a harmonia e para o ritmo. A dobradinha “Brain Capers” e “This Stupid World” pisa forte no acelerador do noise e, juntas, somam 13 minutos ruidosos e oníricos – palavra resgatada na última música, “Miles Away”, que abraça uma psicodelia que cai muito bem no som do trio.
Após perceber tudo isso em repetidas audições, li que a ideia que a banda tinha para o álbum era a de um senso de urgência no som que combinasse com a decisão de que os três fariam todo o disco sozinhos. É bonito ver esse ineditismo em um Yo La Tengo que beira as quatro décadas de existência e que sabe se manter no movimento sem trair aquilo que tem de melhor – que é o que seu público mais quer ouvir, e que This Stupid World tem de sobra.
(This Stupid World em uma faixa: “Fallout”)
