De Arcade Fire a The xx, Primavera Sound 2014 Tem seu Primeiro Dia Oficial

Em dia ensolarado, grandes nomes do festival colocaram o Rock & Roll, Indie Rock e a música Eletrônica em pauta

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Nessa última quinta-feira, pudemos sentir o gosto e entender finalmente como funciona o Primavera Sound. Após uma chuva torrencial que castigou alguns shows e público no dia anterior, fomos compensados com dia muito bonito em Barcelona e, junto da abertura de toda a sua infraestrutura para a sua programação normal, pudermos ter finalmente noção de como funciona o festival e o porquê de ser considerado um dos maiores eventos de música do mundo. O lineup do evento ajuda? Certamente, pois ele sempre será o seu principal chamariz para trazer os fãs de música mais perto de suas bandas favoritas, mas o que transforma toda a ansiedade por concertos e diversos atos ao mesmo em uma verdadeira experiência é como tudo isso é feito, como os palcos são organizados e se o lugar se mostra interessante para se tornar um espaço integrado a todo festival, algo que notamos muito bem ontem.

Gigante, mas com distâncias máximas de 15 minutos – se você andar bem devagar- e um terreno não muito agressivo para os deslocamentos, sem grandes ladeiras ou exigências para os mais sedentários, o Parc del Fòrum é um espaço quase paradisíaco para o Primavera Sound. O local serve para convenções normalmente e ao mesmo tempo é um parque, possuindo espaços como auditórios ao ar livre banhados pelo mar desta região portuária enquanto se passa ao mesmo tempo por árvores típicas da Catalunha, nos trazendo uma mistura perfeita entre a paisagem árida de Barcelona e a sua famosa urbanização que privilegia o envolvimento entre seus habitantes e a cidade.

Local ideal para um festival tão diverso que, na quinta-feira, teve grande parte de seus headliners tocando entre curtos espaços de tempo em uma programação que começa às 17 horas e só termina às 6 da manhã. Tivemos a chance de ver ontem bandas como Arcade Fire, Queens of The Stone Age, Disclosure, Volcano Choir e Real Estate, entre tantas outras, saindo extremamente contentes com tudo o que vimos – pontualidade, boa música e um público muito animado nesta que será provavelmente a noite mais dançante do evento. No entanto, comecei o dia de cobertura em uma espaço externo ao Parc em uma das casas de shows mais famosas da cidade, a Sala Apolo.

Volcano Choir

Em um evento fechado e concedido à imprensa, o grupo liderado por Justin Vernon, conhecido pelos seus projetos a frente do nome Bon Iver, fez o seu primeiro show desde Janeiro deste ano e mostrou por que sua voz e atitude emociona sempre todos através da música. Volcano Choir, banda mais antiga que seu grupo mais famoso, pode ser considerada um hibrído entre o Folk Introvertido do músico e uma verdadeira banda de Rock. O pequeno local se mostrou adequado para que três guitarristas conseguissem impulsionar ainda mais a voz do cantor – com seus famosos efeitos de vocoder e auto-tune, criando um Post-Rock extremamente pessoal e bonito. Visivelmente felizes por estarem tocando novamente e com um público muito emocionado, os músicos passaram por seus dois discos mas com enfase à Repave com as belíssimas faixas Bygone, Comrade e Alaskans mas sem se esquecer de seu maior hit, Still, realizando um dos momentos mais bonitos e intimistas de todo o festival.

Móveis Coloniais de Acaju

Logo em seguida, parti para o Parc Del Fórum para conseguir chegar a tempo da primeira apresentação brasileira oficial, Móveis Coloniais de Acaju, que, mesmo realizando um show mais curto do que estamos acostumados, se manteve às suas tradições com as costumeiras andanças de seus membros pelo público, puxando cada um deles para mais perto e fazendo do seu show uma grande festa no palco Adidas Originals. Corri para pegar [Real Estate]((https://monkeybuzz.com.br/artistas/real-estate/) que, pelo telão do Palco Heineken, um dos dois palcos gigantes do festival, já tinha os seus instrumentos sendo cuidadosamente colocados.

Real Estate

O Sol e o final-de-tarde naquela quinta-feira não poderiam ser mais adequados para o show do grupo de New Jersey que faz de seu som praieiro e letárgico o perfeito acompanhante para uma dia ensolarado. Ao vivo, tocou grande parte das músicas de seu elogiadíssimo último disco, Atlas e que se mantém exatamente como o escutado em suas gravações, impecável e concentrado nos delays de suas guitarras, começou de forma lenta e bonita as apresentações naquele palco. Faixas como Talking Backwards, Past Lives, Had to Hear e Crime mantendo-se as suas texturas e que quando vistas sendo tocadas por seus músicos, os mostra sempre na mesma sintonia apesar de tempo musical naturalmente mais devagar. O slow motion de seu som deixou quase cinco mil pessoas no local paralizadas e hipnotizadas com as boas vibrações propostas, boa prévia para a psicodelia que viria a seguir.

Pond

A banda do ex-baixista do Tame Impala, Nick Albrook fez um show para um público visivelmente mais jovem mas que estava em busca do ouviu e viu: Rock Psicodélico com muita experimentação em uma apresentação muito mais solta e com cara de jam session da banda. A verdade é que, por ser um híbrido do grupo mais famoso de Perth, compartilhando o antigo baterista Cam Avery e seu novo baixista, Jamie Terry, além de Nick, podemos constatar algumas semelhanças entre ambas as bandas, mas que, quando vistas ao vivo, demonstram grandes diferenças. Em um show bastante pesado e roqueiro, com espaço para os seus riffs propícios para um headbang enquanto a banda conduz entre uma faixa e outra algumas experimentações concentradas na distorção e nos sintetizadores, podemos ver um pouco de seu último disco, Hobo Rocket, que o coloca um pouco longe da letargia e, digamos, um pouco mais violento. Mesmo assim, a constante troca de vocais durante as músicas, um frontman andrógeno maluco e um baixo fixado no groove fizeram daquele o concerto mais psicodélico da noite que apenas começava.

Antibalas e Black Drawing Chalks

Ambos disputavam o mesmo horáriom mas estavam localizados na mesma região do festival, o que possibilitou acompanhar um pouco dos dois shows, totalmente diferentes entre si. O grupo de Afrobeat norte-americano inspirado em Fela Kuti, mas que faz um som bem parecido com os nossos brasileiros do Bixiga 70, colocava todos para dançar, deixando-o público em transe com este estilo sonoro que cria uma forte relação entre músicos e plateia – longas músicas, riffs repetidos e instrumentos de sopro não conseguiam deixar ninguém parado no Palco Ray Ban. Já os goianos do Black Drawing Chalks se apresentavam pela primeira vez na diminuta versão deste palco, chamado de Unplugged. O container obrigava o público a se espremer e vê-lo como se fosse em uma típica casa de shows na rua Augusta em São Paulo, o que para o Rock & Roll do grupo se mostrou nada mais do que perfeito – rasgado, enérgico e vibrante – mostrava que o fato de cantar inglês o deixava mais perto de outros ouvintes com diversos gringos sabendo as suas músicas de cor.

Future Islands

Talvez um dos shows mais esperados por mim em todo o festival, foi uma grata surpresa ao se mostrar ainda melhor ao vivo no Palco Pitchfork. As letras emotivas de Samuel Herring se mostram ainda mais pessoais quando conseguimos dar não só uma imagem ao seu vocalista mas como ele se comporta para dizer o que sente. Com estilo meio “tiozão”, com cabelos já rasos e uma roupa toda preta que, mesmo assim, denunciava a sua silhueta mais redonda na barriga, ele mostra-se totalmente distinto ao se apresentar pulando de um lado pro outro, dançar e bater no peito ao proferir suas palavras. Sua voz engrossa na sinceridade e emoção, e o grupo sem nenhum guitarrista mostrou que o instrumento não lhe faz falta quando se tem uma cozinha muito definida e sincronizada entre baixo e bateria. O sintetizador dava a cor a tudo isso enquanto Samuel roubava a cena. A mistura entre as suas belíssimas baladas e faixas mais dançantes acabou por constituir o concerto mais sensual e romântico de toda quinta-feira. Dividindo seu set entre seu último disco, Singles, e o maravilhoso On the Water, demonstrou que o hype não existe aqui.

Queens of the Stone Age

Se já havíamos visto no Lollapalooza do ano passado a banda de Josh Homme fazendo uma verdadeira celebração à sua história com um mar de hits e singles famosos, agora as coisas se inverteram um pouco na turnê de seu último disco, …Like Clockwork, a qual será vista em terras brasileiras no segundo semestre. Seja pelas cores utilizadas ou pelo tom vampiresco de sua cenografia, seguindo claramente a capa de seu álbum, o grupo trouxe elementos diferentes à sua apresentação como um piano de cauda longa e sintetizadores, que trazem ao vivo o tom orquestrado de sua elogiada nova obra. No meio dessas faixas, pecebemos o encaixe perfeito de clássicos como Little Sister, Songs for the Deaf, No One Knows e Feel Good Hit of the Summer. Quando as novas, como Spiders and Vinegaroons, My God Is the Sun e If I Had a Tail, foram tocadas, pudemos ter a noção do status de “maior banda de Rock do mundo na atualidade”. Seja nos momentos mais rápidos e intensos ou no verdadeiro Stoner Rock, o maior público até agora do festival não deixava de cantar junto ou reconhecer cada uma das músicas que, auxiliadas pela presença e atitude de palco de Josh, acabaram lavando a alma dos roqueiros presentes.

Arcade Fire

Falar sobre o show dos canadenses é como chover no molhado: Você já sabe que vai ser bom, seja a sua primeira vez diante deles – o que certamente é muito emocionante como visto no último Lollapalooza, ou simplesmente a sua nova chance de vê-los, porque, uma vez diante deste espetáculo, dificilmente você pensará duas vezes antes de ir ver outra banda. Ganharam mais uma vez a noite de um festival ao trazer todo o aparato que já havia sido visto no Brasil e tocar músicas de todos os seus discos, encaixando-as perfeitamente com o clima de sua mutante cenografia de turnês. O lado mais eletrônico que permeia Reflektor é sentido nos diversos espelhos, holofotes e luzes negras, que transformam o palco a cada faixa, assim como os seus músicos trocam constantemente de lugar e de instrumentos ao longo do espetáculo. Estavam lá No Cars Go, Wake Up, Sprawl II, Afterlife e The Suburbs, esta que nos dá saudade sempre que escutada. Mas se existe uma música que pode ser considerada a melhor de todas ao vivo, ela é It’s Never Over. Cantada pelo casal Win Butler e Régine Chassagne, o primeiro no palco e a sua esposa do lado oposto em no meio de seus fãs, é extremamente emocionante quando colocada sob a ótica dos dois, pois seu amor nunca vai acabar. Divididos entre pulos entusiasmados e danças na rave proposta pelo grupo, o público pôde ver o maior espetáculo do mundo em 2014, sem sombras de dúvida, no palco Sony.

Disclosure e Moderat

Se todo mundo já tinha tido a chance de dançar bastante no Arcade Fire, o clima continuou com a agora balada que tomava conta do Primavera Sound. Os palcos agora estavam tomados por atos Eletrônicos que transformavam o evento em uma grande balada. Esta pode ser a grande diferença entre um festival na Europa e no Brasil – ao terminar mais tarde, o evento pode comportar outros tipos de som que durante o dia não fazem tanto sentido, mas que à noite se mostram propícios. Dessa forma, não se espanta o público e este acaba ganhando diversas experiências em um mesmo pacote. O live de Disclosure continuou colocando seu Eletro Dance de forma eficiente e divertida para os presentes que se deliciavam com os hits When the Fire Starts to Burn, Latch e F For You. Se no Lollapallooza o som estava meio baixo e quase não conseguíamos distinguir alguns instrumentos, no Primavera Sound podemos sentir a intensidade de seus beats ao mesmo tempo em que disputavam um espaço com os alemães do Moderat fazendo um som eletrônico diferente. O Deep House germânico era conduzido por três músicos que se alternavam entre seus sintetizadores e controladores sonoros em um concerto mais fino e que lembrou bastante o formato proposto por Kraftwerk em sua passagem pelo Sónar do Brasil. Mais estático e menos interativo, o grupo hipnotizou grande parte do imenso público que estava lá para vê-lo com as ótimas Bad Kingdom, Rusty Nails e Damage Done, todas descontruídas e transformadas ao vivo.

Metronomy

Mais um concerto que teremos a chance de ver no Brasil no próximo semestre, os ingleses do Metronomy lotaram o palco Ray Ban às 3 e meia da manhã do primeiro dia festival. Completamente tomado pelo público (que já não conseguia ver outra banda que não o fizesse dançar), pudemos ver que grande parte dos presentes aceitaram muito bem o novo disco, Love Letters, ao vivo. I’m Aquarius ,com um violão sendo tocado, a calma The Upsetter ou a baladinha Month of Sundays eram cantadas perfeitamente pelos seus fãs que se empolgavam, entretanto, muito mais nos clássicos The Look, The Bay, Everything Goes My Way e Corinne. A verdade é que o baixo toma grande parte da apresentação, pulsando e não deixando ninguém ficar parado até que as músicas mais calmas, como as de sua última obra, sejam tocadas. Logo o seu repertório está muito mais conciso e feito para que uma experiência sonora seja melhor aproveitada ao saber dosar intensidade com calmaria, emoção com êxtase. Ótima prévia para um concerto que certamente irá te divertir em terras brasileiras e que mostra uma banda dominando cada um dos elementos sonoros que a compõem. Espere por uma grande festa em breve.

Jamie XX

Às 4:20, o último show da noite foi realizado pelo menino prodígio do The xx, Jamie XX, em um set com ares de discoteca, mas extremamente eficiente. Passando pelo R&B, House, Hip Hop e remixes como o de You Got the Love, o produtor e músico soube mostrar porque é tão comentado no mundo da música Eletrônica e do Indie, mesmo sem não ter lançado um disco até agora. Sua aparelhagem estava resumida às pickups e seu computador, como se estivesse em um pequeno clube de música Eletrônica do Boiler Room. No entanto, ele tocava para cerca de quatro mil pessoas, o que acabou por transformar seu “DJ-set “ em um verdadeira festa ao ar livre. Sua apresentação foi marcada pela sincronia entre suas transições, pelos remixes sendo feitos ao vivo e por uma incrível capacidade de fazer transições entre faixas que, a princípio, nunca dariam certas juntas.

Voltar pra casa escutando o set do músico às cinco da manhã parecia meio surreal para um dia que tinha tido os melhores concertos que poderíamos esperar para um dia de festival. No entanto, temos mais dois períodos de cobertura pela frente e, se nessa quinta-feira tivemos a chance de ter visto grandes nomes em uma experiência que se misturou entre dois focos – um bastante roqueiro e outro bastante eletrônico – no começo da noite, podemos ter certeza que os outros dias serão totalmente distintos. Só esperamos que o Sol continue a brilhar no instável tempo de Barcelona. Vamos nessa!

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Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.