Resenhas

Anderson .Paak – Oxnard

Com acenos ao G-Funk, .Paak entrega um álbum de timbres ensolarados e acentos sexuais

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Ano: 2018
Selo: Aftermath, 12 Tone
# Faixas: 12
Estilos: G-Funk, Hip Hop
Duração: 48:27
Nota: 4.0
Produção: Dr. Dre, 9th Wonder, Anderson .Paak, Andre Brissett, Callum and Kiefer, Chris Dave, Dem Jointz, Focus..., Jairus "J.Mo" Mozee, Jason Pounds, Jhair Lazo, Jose Rios, Kadhja Bonet, King Michael Coy, Mell, Om'Mas Keith, Q-Tip, Ron Avant, Tia Myrie

Anderson .Paak continua seu mapeamento da vida na costa oeste dos EUA com Oxnard, seu terceiro álbum, que chega ensolarado por acentos do Hip Hop, do Funk e da Música Latina – uma tríade que aponta sem sombra de dúvida para o G-Funk como fonte de inspiração.

Assim como seus antecessores, .Paak dá à Oxnard o nome de uma cidade na Califórnia. A intenção parece ser a de unir a sua discografia dentro de uma mesma linha de pensamento, que reflete na música um mundo que se encerra numa geografia específica, onde .Paak se formou não apenas enquanto artista, mas enquanto pessoa. Vale dizer que Oxnard é a sua cidade natal, mas isso acaba por apontar, contraditoriamente, para valores inversamente proporcionais: quanto mais famoso o artista fica, e mais amplo o alcance de sua palavra, mais ele parece querer voltar às suas raízes, ao seu fundamento e aos valores que o fizeram chegar até aqui.

As coisas, é claro, não são tão simples. Oxnard por um lado evoca uma Califórnia nostálgica, de timbres ensolarados e acentos sexuais. O tom de .Paak é carismático mas com uma visão adolescentesca que não corresponde à perícia da produção do trabalho ‒ que vai agradar sem esforço os jurados do Grammy. De outro, porém, não vemos .Paak compartilhar uma visão de mundo, apenas discorrer em uma abordagem literal e muitas vezes explícita do momento que vive, na qual os conflitos assumem o formato da fama, que se reflete no excesso de mulheres e dinheiro.

.Paak despontou no mainstream por conta de uma participação em Compton, álbum de 2015 de Dr. Dre. Em seguida, com Malibu, de inspiração vinda notadamente de Kendrick Lamar, cravou de vez o seu nome como uma das grandes novas promessas da música. Estes artistas, antes uma influência refratada de .Paak, agora marcam uma presença real, transmutando seu campo de atuação, trazendo todo o seu poder de fogo, assumidamente, para Oxnard. No entanto, .Paak não alcança seus mentores em determinados aspectos. Suas letras são em grande medida retilíneas e escolhem falar de forma desfasada, com um teor de misoginia tardia que já parece não caber muito bem em 2018. A diversão é garantida, mas quando .Paak experimenta incursões mais complexas, não dá conta de dissecá-las em suas rimas.

No entanto, a perícia técnica de .Paak, o timbre de sua voz, sua malícia e a proficiência que possui como instrumentista, vocalista e produtor salvam sua pele, fazendo de Oxnard um trabalho super articulado e que joga com fluidez entre estilos sonoros, trazendo um calor de veraneio e uma aura entertainer que costumam estar ausentes no Rap ‒ vale citar como exemplo o tom amargo de Vince Staples que fala mais ou menos do mesmo palanque de .Paak, mas com uma abordagem completamente distinta da dele.

Enquanto percorre a orla californiana em uma espécie de jornada de autodescobrimento, .Paak parece descobrir, meio a contragosto, que é justamente a trajetória, com seus percalços inerentes, que o transforma no artista que é, ao invés de uma “essência” enterrada como um tesouro em algum ponto do mapa. Oxnard, mesmo com todos os desencontros que tem, possui o orgulho de não ser um trabalho demasiadamente seguro de si mesmo e ostenta uma produção cristalina que responde sem nenhum esforço às exigências do mainstream.

(Oxnard em uma música: Tints)

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BOM PARA QUEM OUVE: Snoop Dogg, Pharrell, Kendrick Lamar
MARCADORES: G-Funk, Hip Hop

Autor:

é músico e escreve sobre arte