Resenhas

Beck – Hyperspace

No rescaldo Pop de “Colors” (2017) o novo disco do artista conta com produção de Pharrell Williams e alude a Daft Punk

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Ano: 2019
Selo: Capitol
# Faixas: 11
Estilos: Pop, R&B, Eletrônica
Duração: 39’
Produção: Pharrell Williams, Beck Hansen, Cole M.G.N., Greg Kurstin, Paul Epworth, David Greenbaum

O nascimento de alguns discos ajudam a repensar o lugar de um artista veterano em um mundo constantemente protagonizado por novidades. Hyperspace é o décimo quarto álbum da carreira de Beck, músico que se aproxima dos cinquenta anos de idade. O trabalho não é necessariamente uma retrospectiva, mas sem dúvida equilibra as duas polaridades musicais que Beck sempre experimentou ao longo de sua trajetória: o melancólico confessional de Sea Change (2002) e Morning Phase (2014), e o funk carregado de eletricidade estática de Odelay (1996) e Midnight Vultures (1999).

Em entrevista para a NME, quando perguntado sobre o ponto de partida para esse trabalho, Beck responde quase automaticamente que o seu desejo era trabalhar com Pharrell Williams, que recentemente foi ao centro das atenções por conta de sua parceria com o Daft Punk. A estética da capa de Hyperspace lembra muito a da dupla francesa em Human After All (2005), o uso de vocoder em alguns vocais, além de letras como “faster, farther, longer, harder” na faixa título, deixam clara a referência. No entanto, apesar de ser obviamente um ponto de partida, as coisas acabam por se desenvolver dentro do seu próprio universo. Pharrell divide a produção e também canta por aqui. O resultado é uma produção simbiótica, dividida entre o Funk Low Key, a música Eletrônica e o Pop mainstream.

Hyperspace vem no rescaldo de Colors, e a intenção de Beck era continuar produzindo o Pop de arquibancada de seu antecessor, mas por conta da influência de Pharrell as coisas tergiversaram para a prática singer-songwriter do compositor. O R&B é uma referência clara, e o uso de sintetizadores e melodias psicodélicas constroem um álbum ao mesmo tempo hi-tech e nostálgico. A presença de convidados como Sky Ferreira e Chris Martin (Coldplay), ajudam a configurar esse universo Pop, no qual figuras melancólicas produzem hits para tocar no rádio, recheados de refrãos pegajosos e repetitivos.

No entanto, a partir da faixa “Hyperspace”, o “lado B” do disco, as faixas sugerem uma evolução narrativa, a produção se dissipa em algo mais cósmico. “Stratosphere”, “Dark Places” e “Star” fazem parte de uma viagem espacial, como se Beck estivesse tentando acessar dimensões cada vez maiores e mais longínquas da própria subjetividade, verdades arquetípicas, embora sem nunca perder a simplicidade da escrita. As músicas, por sua vez, são formadas por linhas coloridas que orbitam em um fundo infinito, abstratas, mas esteticamente agradáveis.

O clipe de “Uneventful Days” faz alusão aos principais momentos da carreira de Beck. A faixa de encerramento “Everlasting Nothing”, por sua vez, canta sobre um “soldado sem canção tentando voltar para casa”. Hyperspace, se comparado ao passado, pode até soar como um exercício sem o fôlego de outrora. No entanto, essa ansiedade não passa de um substrato fértil para mostrar o que ele ainda é capaz de fazer.

(Hyperspace em uma faixa: “Uneventful Days”)

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ARTISTA: Beck
MARCADORES: Eletrônica, Pop, R&B

Autor:

é músico e escreve sobre arte