Resenhas

Caroline Polachek – Pang

Fora do duo Chairlift, cantora convida o ouvinte a uma experiência sensível e Pop em nova fase

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Ano: 2019
Selo: Perpetual Novice
# Faixas: 14
Estilos: Pop, Pop Eletrônico
Duração: 46'
Produção: Caroline Polachek, Danny L Harle, Daniel Nigro, Jim-E Stack, Dan Carey, A. G. Cook, Andrew Wyatt, Valley Girl

Para os estudos de narrativas, mais importante do que a história é a maneira com que ela é contada. Já para a psicologia, os fatos costumam ser menos relevantes do que nossas respostas emocionais ao que aconteceu. Pelo que parece, Caroline Polachek estava pensando nesses contrapontos para fazer as escolhas que rondam a produção de Pang. Assim, quem espera por uma continuação do que acontecia no finado duo Chairlift do qual ela fazia parte pode acabar se frustrando. Diferente do Synthpop datado da última década, a artista, em seu projeto solo, chega com uma vontade mais autoral e contemporânea. E mais, os sentimentos que inspiram esse LP de “estreia” têm formato acessível e agradável.

Com isso, quero dizer que as letras tratam de estabelecer o volume ou a intensidade do eu-lírico em questão. Até porque, curiosamente, a palavra “feel” (“sentir”) aparece em quase todas as músicas (em diferentes contextos, é claro). “Ocean of Tears”, o single que veio meses antes do disco sair, já era um prenúncio das metáforas grandiosas das quais Polachek, por vezes, lança mão neste registro. Em paralelo, o clima etéreo e grave serve como base para as músicas e permite que o que está sendo cantado ganhe um corpo subjetivo único.

Entre beats e outros timbres eletrônicos, ela se esbalda em um Pop caprichado depois de tantos anos no Indie convencional. Exemplo disso é o potencial hit dançante “Hit Me Where It Hurts”. As explorações continuam na balada digna de trilha hollywoodiana “Look at Me Now”. São as músicas menos pretensiosas, porém, que configuram os momentos de maior entretenimento no disco, como a animada “So How You’re Hurting My Feelings” e a delicada “Hey Big Eyes”. Há a leveza divertida dessa estética, sem deslegitimar a intensidade do que é sentido.

O que mais fica da audição de Pang é esse equilíbrio, no qual uma musicalidade tão acessível encontra uma carga emocional íntima. O caráter humano é reforçado em todas as faixas pelo vocal em primeiro plano, inclusive. A contemporaneidade do álbum está ironicamente na sua capacidade de tirar o pó do Romantismo. Uma das estratégias para alcançar esse resultado é a organização do disco: há uma base, por exemplo, que se repete na introdução, em “Insomnia” (no meio do caminho) e na última música, depois do clímax de “Door”. Assim, Polachek cativa o ouvinte ao criar um senso de familiaridade ao longo deste repertório, o que permite que as letras não percam sua força, mesmo não sendo tão descritivas em alguns momentos. Em resumo: o que se atravessa é uma sensação parecida com a que se tem ao assistir filmes de cenas coladas, sem história linear, sem personagens nomeados, mas que, quando sobem os créditos ao final do longa-metragem, parece que vivemos na pele um pouco do que estava na tela.

(Pang em uma música: Ocean of Tears)

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Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.