Resenhas

Destroyer – ken

Disco mistura Eletrônica retrô com Pop melancólico

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Ano: 2017
Selo: Merge
# Faixas: 11
Estilos: Rock Alternativo, Eletrônica
Duração: 39:42
Nota: 4.0
Produção: Josh Wells

Destroyer é a banda de Dan Bejar, um dos mais interessantes compositores em atividade nesse mundo musical que tanto nos agrada. Ele também faz parte de The New Pornographers, uma formação, digamos, menos obscura, que até lançou um novo – e ótimo – álbum no início deste ano, muito mais na seara do Power Pop revisitado e reinventado. Pois bem, saibam de antemão que o clima por aqui é bem distinto, talvez oposto: Bejar é um cara com gosto pelas tonalidades cinzentas e por soltar demônios interiores quando está compondo e gravando, com especial afeição por aquela variação Pop que mistura danação, humor negro, tristeza e belos arranjos de cordas, sintetizadores e tudo mais. Em ken, seu novo trabalho, não é diferente. Não é um disco feliz, mas tem elementos de sobra pra te conquistar.

O motivo do disco é inusitado: Bejar leu recentemente que uma de suas canções preferidas – The Wild Ones, de Suede – originalmente se chamaria ken. Este fato, misturado a uma viagem temporal-musical ao tempo em que música tornou-se uma obsessão para ele (em suas palavras), no caso, o início dos anos 1990, serviu de catalisador para este novíssimo trabalho. A ideia aqui foi dar espaço para esta nova informação em meio ao já habitual panorama sonoro habitual. Na verdade, além de uma eventual visita a sonoridades do Britpop da primeira metade da década de 90, Bejar abraçou uma abordagem mais próxima do Pós-Punk, no sentido New Order do termo, especialmente a fase inicial do grupo de Manchester. Sendo assim, as canções de ken oscilam entre arranjos pianísticos, dramáticos e pequenos espécimes mutantes com drum machines intencionalmente fora de lugar, meio tortas, meio colocadas de sopetão. Funciona.

Canções como In The Morning e Tinseltown Swiming In Blood devem quase tudo à sonoridade bolada por New Order em 1982/83. São lentamente dançantes, quase que por acaso, mas carregam emoção e pungência a ponto de gerarem um belo contraste. A abertura com Sky’s Grey é uma porretada na cara do ouvinte, com um clima que poderia ser de David Bowie em seus momentos menos alegres, com letra conclamendo eventuais capitalistas revolucionários jovens a uma mudança. Bejar, além de mestre da ironia, é um sujeito sem medo. A produção de Josh Wells, baterista de Destroyer desde 2012, confere um verdadeiro espírito de banda às canções, ainda que elas não tenham sido gravadas por todos os integrantes ao mesmo tempo no estúdio. A coesão é admirável e o resultado dá uma tonalidade sépia ao disco, algo bem apropriado dentro da proposta.

Outros destaques: os teclados e efeitos datados de See You At The Hospital; o timbre sombrio e noturno de A Light Travels Down The Catwalk; o arranjo soberbo e a elegância guitarrística de Rome; o sintetizador Stranger Things que conduz Ivory Coast e a eletrônica vintagem que dá alma a La Regle Du Jeu, que fecha o disco com um ar decadente e esquisitamente proposital, com Bejar soando como um DJ com placa de “O Fim do Mundo Está Próximo” pendurada no peito enquanto toca lados-B obscuros num buraco qualquer.

ken é um disco interessante, que merece audição completa e atenção total. É irônico, trágico e intenso.

(ken em uma música: Sky’s Grey)

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.