Resenhas

Fabiano do Nascimento & Sam Gendel – The Room

União entre violonista e saxofonista reverbera diferentes referências brasileiras em paisagem minimalista e autêntica

Loading

Ano: 2024
Selo: Real World Records
# Faixas: 10
Estilos: Jazz, Bossa Nova
Duração: 35'
Produção: Fabiano do Nascimento, Sam Gendel

 

Em seus dois mais recentes registros, Das Nuvens e Mundo Solo (ambos lançados em 2023), o violonista Fabiano do Nascimento experimentou diversos timbres, sonoridades eletrônicas e novas possibilidades de mixagem. Todo esse ímpeto em explorar as barreiras de sua música (e da música brasileira, por extensão) aparece em seu novo registro, porém de forma diferente. Para The Room, o músico volta a colaborar com o saxofonista Sam Gendel, com quem cria um disco, digamos, menos ousado em sua produção, mas com uma riqueza musical ímpar, que tem como foco a conexão desses dois artistas com seus instrumentos – e, é claro, de um com o outro.

Gendel e Nascimento já haviam se encontrado anteriormente em Tempo dos Mestres, disco de 2017 que conta com cinco colaborações entre eles. Esse reencontro mostra os dois músicos ainda mais experientes e confortáveis em suas criações em conjunto. A união entre um violão de sete cordas e um saxofone soprano nos leva por uma viagem por belas paisagens sul-americanas, saudando os medalhões como Baden Powell e João Gilberto, mas imprimindo algo autêntico, que nasce espontaneamente dessa amizade.

O registro começa com a hipnótica “Foi Boto”, single que já revela muito do que podemos esperar do disco como um todo. A música apresenta uma batida de violão à la Luiz Bonfá, melódica e rítmica ao mesmo tempo, enquanto o saxofone de Gendel dança ao redor das notas, criando uma melodia em contraponto belíssima. Já em “Capricho”, é Sam quem conduz a dança num samba torto que soa não apenas como um mero revisitar do repertório tupiniquim.

A obra segue explorando possibilidades múltiplas desse encontro: “Astral Flowers” é guiada pelo dedilhar preciso de Fabiano; “Cores” (co-escrita com cantora Liliana Chachian, do grupo Da Lata) se inclina mais ao pop; “Poeira” é melancólica e calorosa; “Até de Manhã” carrega um tom lamurioso; e a derradeira “Daiana” parece um aceno aos mestres da bossa nova numa quase valsinha – como feita para cortejar a moça que dá nome à faixa.

São 35 minutos (espalhados em 10 faixas) que mostram o que pode surgir de um quarto (ou “room”, se preferir) com dois músicos incríveis e a ideia de uma gravação quase minimalista. O que falta em variedade de instrumentos sobra em talento e numa conexão profunda entre os dois artistas. Um disco que prima pela simplicidade – mas que resulta em um repertório nada simplório.

(The Room em uma faixa: “Foi Boto”)

Loading

Autor:

Apaixonado por música e entusiasta no mundo dos podcasts