Resenhas

Fabiano do Nascimento – Ykytu

Quarto disco do habilidoso violonista evoca sensações de saudade e ausência, mas ainda assim constrói atmosfera calorosa e acolhedora

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Ano: 2021
Selo: Now-Again Records
# Faixas: 12
Estilos: Instrumental
Duração: 33'
Produção: Fabiano do Nascimento

“Estar distante” foi e tem sido a realidade de tantos durante quase dois anos de uma pandemia de fim ainda desconhecido. Antes mesmo dela, Fabiano do Nascimento já se encontrava em um afastamento, estando longe da vida com os seus há vinte anos – quando ele deixou o Rio para carreira em Los Angeles –, o que fez com que Ykytu nascesse com cara de saudade.

Diferente de seus três álbuns anteriores, este veste os trajes do isolamento e coloca o violonista, compositor e produtor em versão, de fato, solo. Estas suas 11 composições são esculpidas por meio de três tipos de violões (o convencional de seis cordas, mas também o de sete e o de dez), overdubs, efeitos e um ou outro ocasional cantarolar. Sem nenhuma palavra, a voz serve de coadjuvante, sem que o violão perca seu protagonismo.

Quando o vocal surge, entretanto, ele evoca harmonias de um jeito de cantar orgânico, quase espontâneo e muito familiar. São cantos que ajudam a já mencionada saudade a reverberar por entre os tão belos temas que Fabiano constrói. Dono de uma erudição palatável, ele dá ao disco a impressão de uma trilha sonora de um filme que você adoraria ver, e projeta na mente do ouvinte cenas de tamanha afeição que casam bem com a sensibilidade de suas composições.

Ykytu, que quer dizer “vento” em guarani, é caloroso no sopro musical que percorre faixas que se emendam naturalmente umas nas outras, com direito a uma citação explícita da primeira (“Curumin”) no encerramento da obra (“Rio Tapajós”), o que sempre nos convida a um replay. Os títulos das faixas, formados principalmente por substantivos, servem para separar cada música do álbum, mas nem sempre guiam nossa interpretação. A maior exceção é “Stalagmites”, com um som que reverbera grave, como o ambiente de uma caverna, e as notas agudas como as gotas que formam essas construções.

As demais faixas só ganham ligações mais diretas com seus títulos através de forte interpretação, e seus nomes acabam sendo meros detalhes. Pouco importa que “Corrida” é chamada assim, visto que a beleza do seu tema é sua principal característica, ou mesmo que “Ykytu” batize todo o disco, já que o seu tema principal tem carisma suficiente para ficar grudado na mente mesmo tempos após sua audição.

No caso de “Amor e Carinho”, a música apresenta uma melancolia palpável que, ao depender de como o ouvinte enxerga as coisas, pouco pode ter a ver com seu título. Sob a ótica da saudade, no entanto, qualquer afeto faz doer se ele está atrelado à distância. Na companhia do violão, Fabiano faz uma obra pautada por breves ausências, pequenos silêncios entre os acordes que nos fazem lembrar que não há uma banda ali. Se o vento pode tudo preencher, Ykytu é um trabalho sobre o que (faz) falta.

(Ykytu em uma faixa: “Corrida”)

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Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.