Resenhas

Fabiano do Nascimento – Das Nuvens

Em proposta reducionista, violonista carioca expande seu leque sonoro e dedilha em meio a timbres eletrônicos de sintetizadores

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Ano: 2023
Selo: Leaving Records
# Faixas: 11
Estilos: Experimental
Duração: 36'
Produção: Daniel Santiago

Nos últimos anos, Fabiano do Nascimento tem se mostrado cada vez mais um artista prolífico e talentoso, experimentando e expandindo diversas das possibilidades da música brasileira em encontros com samba, choro e jazz – só para citar algumas vertentes pelas quais suas criações percorrem. Prova disso está em Lendas, disco lançado em janeiro. Em seu mais novo trabalho, Das Nuvens, o músico propõe uma nova experiência e vem acompanhado de timbres eletrônicos, em uma proposta reducionista.

Se anteriormente, a música de Fabiano trabalhava diversos elementos tradicionais da música de nosso país a partir de arranjos muitas vezes intrincados, aqui ele parece investir no oposto. Para começar, a nova coleção de faixas tem protagonismo dividido – não apenas o violão é centro das atenções, mas os sintetizadores desempenham um papel importantíssimo, com timbres ora mais auspiciosos, ora mais soturnos. Há também o acréscimo de eventuais batuques eletrônicos, que quase sempre surgem de maneira delicada, deixando espaço para um elemento que se mostra bastante presente: o silêncio.

O silêncio parece costurar toda a obra, deixando respiros importantes e criando lacunas que serão preenchidas pelo incrível dedilhar do violão ou por synths brilhosos. Mas não se engane: ainda que haja um aspecto reducionista, este disco está longe de ser algo minimalista. As ambientações criadas ao lado do produtor Daniel Santiago estão fundadas mais nas sutilezas eletrônicas do que na opulência sensorial de registros anteriores, o que cria uma nova forma de absorver e observar o uso da música brasileira nas mãos de Fabiano. Faixas tão opostas, como “Blu’s Dream” e “3 Pontas”, podem servir de exemplos da diversidade presente na obra.

Das Nuvens cativa por sua capacidade de transcender gêneros e, a partir dessa nova abordagem, o músico consegue despertar emoções profundas. Além de um exercício interessante de fusão entre elementos clássicos e contemporâneos, o registro mostra um Fabiano com o qual até então não estávamos acostumados – um que desafia a proposta consolidada de sua própria obra em prol de algo novo. É um convite a novas possibilidades e horizontes, vagando lentamente pela vastidão azul, como uma nuvem que sopra discreta no céu em um dia de brisa.

(Das Nuvens em uma faixa: “Eterno”)

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Autor:

Apaixonado por música e entusiasta no mundo dos podcasts