Resenhas

LCD Soundsystem – London Sessions

Registro ressalta a experiência coletiva e orgânica da banda de James Murphy antes de seu hiato no início da última década

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Ano: 2010
Selo: DFA
# Faixas: 9
Estilos: Dance Punk, Eletrônica
Duração: 58'
Produção: James Murphy

James Murphy é obcecado por como uma banda deve soar ao vivo. É fácil encontrar entrevistas em que divaga sobre os decibéis que o ouvido humano consegue captar e sobre a falta de interesse de bandas e casas de show em construir seus sistemas de som do zero – habilidade que adquiriu jovem, antes de sonhar em começar o LCD Soundsystem, e que depois expandiu no projeto Despacio, em conjunto com o duo 2manydjs. Segundo ele, “muitas pessoas perderam a arte de saber usar o volume de uma maneira que não seja desagradável ou dolorosa para os ouvidos”. Seu objetivo é sempre tocar o mais alto possível sem ferir os tímpanos de ninguém (incluindo os dele e da banda).

Ao mesmo tempo, sempre fez questão de ressaltar o quanto valoriza o formato para o qual a música está sendo produzida. Ao vivo, ela deve soar incrível, mas, no álbum, ela deve ser mixada e masterizada para o vinil – formato símbolo de seu selo DFA Records – além de estar impecável dentro do possível nas compressões dos formatos digitais. Esta era a equação que James Murphy se divertiu solucionando ao gravar o registro London Sessions.

Inspirados pelas gravações do lendário John Peel na BBC, a banda fez uma pausa em sua turnê do álbum This Is Happening, em 2010, e parou no Miloco Studios, na capital britânica, para tentar captar, nas limitações de um estúdio, a energia que sempre fez do LCD Soundsystem uma das melhores bandas ao vivo dos últimos tempos. Vale lembrar que 2010 havia sido o ano do anúncio do suposto fim da banda, o que trazia um ar nostálgico especial para a gravação.

Em uma conversa com o DJ Justin Strauss no ano passado, James Murphy comentou que “quando você olha para as músicas que são nossos maiores sucessos, não são os singles, mas as músicas que tocamos melhor ao vivo. Os singles não importavam, mas era o que tocávamos ao vivo que ressoava mais nas pessoas”.

Por isso mesmo, a escolha das canções aqui não deve ter sido tarefa muito difícil. Sempre há margem para discussão, mas as nove faixas do repertório são algumas das mais memoráveis para quem já presenciou suas apresentações ao vivo. (Um abraço para a antiga Pachá, que foi palco, em 2011, do único show que havia visto da banda até aquele momento).

James Murphy é um obsessivo controlador, principalmente nas produções de seus álbuns de estúdio e aqui encontramos uma divisão de protagonismo maior do que em qualquer trabalho anterior. As vozes secundárias se destacam logo na abertura com “Us v Them”, o baixo de Tyler Pope traz um groove inédito para “Daft Punk Is Playing At My House”, a guitarra aparece mais limpa em “All I Want” e ganha a companhia de um sintetizador mais colorido por Gavilán Rayna Russom.

London Sessions não é daqueles álbuns ao vivo que se destacam entre uma discografia. É contido até certo ponto, mas valoriza bem os momentos em que a experiência coletiva de LCD Soundsystem como banda se destaca. E é um dos melhores registros disponíveis do quão orgânico de fato é um projeto que frequentemente está associado à música eletrônica.

(London Sessions em uma faixa: “Us v Them”)

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Autor:

Nerd de música e fundador do Monkeybuzz.