Resenhas

Odradek – Liminal

Terceiro disco do trio piracicabano une, com maestria, técnica e fluidez

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Ano: 2022
Selo: Balaclava Records
# Faixas: 9
Estilos: Rock Alternativo, Math Rock
Duração: 32'
Produção: Franco Torrezan

“O Odradek é um ser impossível, feito de uma descrição imprecisa e que, entretanto, existe”. É assim que a escritora Olivia Maia descreve o conceito kafkiano que também dá nome ao trio piracicabano de música experimental. Entender o som da banda vai neste mesmo caminho. Vai além de tentar compreender a amálgama sonora que o forma; vai, inclusive, além de catalogar as bases musicais que geram o resultante maluco que é Liminal, terceiro registro de inéditas de Tomas Gil (baixo), Fabiano Benetton (guitarra) e Caio Gaeta (bateria).

O disco navega por águas turbulentas, turvas, mas, ao mesmo tempo, segue como no curso de um rio – e o caos parece controlado, ainda que seja impossível saber como se atravessa por essa correnteza. O rock é elemento primordial aqui, mas afluem nele o jazz, o experimental e o math rock, entre outros tantos córregos e nascentes. No final, a soma é mais importante do que cada um dos elementos separados.

De ponta a ponta (de “Irene Noir” a “Segue Anexo (We Don’t Go To Ravenholm)”), o repertório se baseia em guitarras angulares, que muitas vezes absorvem o lado mais técnico do math rock – sem deixar de lado, entretanto, a agressividade ruidosa. A bateria, da mesma forma, soa ora irrequieta, ora classuda, como num bom disco de jazz. O baixo tem o papel de unir tudo, porém, ao contrário do que geralmente, se espera do instrumento, nem sempre ele faz par com a bateria. Às vezes, ele parece alinhando, com os riffs da guitarra ou até surge “solto” pela faixa, trilhando seu próprio caminho sonoro. Soma-se ainda a presença de elementos eletrônicos e mais paradigmas caem.

São ecos que vão de Black Midi a Taco de Golfe e passam até por Hurtmold – mas as referências são agregadas de modo aventureiro, experimental e levam o rock a campos inexplorados e seu conjunto é de difícil definição. Apesar de calculado e altamente técnico, nada em Liminal, do Odradek, parece engessado ou pedante – tudo soa fluido, ainda que seja no sentido caudaloso de um rio bravo.

(Liminal em uma faixa: “Canary Wharf”) 

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ARTISTA: Odradek

Autor:

Apaixonado por música e entusiasta no mundo dos podcasts