Resenhas

Steve Lacy – Gemini Rights

Com simplicidade eficaz e uma musicalidade de aparência orgânica (e quase crua), segundo disco do músico americano transpira sinceridade

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Ano: 2022
Selo: L-M Records/RCA/Sony Music
# Faixas: 10
Estilos: Neo Soul, Bedroom Soul, R&B
Duração: 35'
Produção: Steve Lacy, DJ Dahi, Fousheé, Karriem Riggins e Matt Martians

Steve Lacy foi um dos muitos artistas que se percebeu moldado pela pandemia e o consequente tempo em isolamento, que geraram as duas bases sobre as quais Gemini Rights foi concebido: a vontade de expressar seus sentimentos e também a de se divertir fazendo música. O resultado, como não poderia deixar de ser, é um contato bastante próximo do ouvinte com o músico – que mostra aqui seu lado juvenil bastante aflorado, cantando de casos e descasos com uma sinceridade às vezes incômoda e um enorme desejo de viver.

Sendo ele um produtor de mão cheia, como já provou ao lado de Kendrick Lamar, Kali Uchis e Tyler, the Creator (entre tantos outros), é de se esperar que este seu segundo álbum solo viesse carregado de pequenos maneirismos de gravação e edição, e Steve satisfaz essa expectativa. Só que, diferente de outros ao desempenhar a função, são suas letras que estão em um primeiro plano de importância, e sua maestria é colocada a favor de uma musicalidade de aparência orgânica, às vezes quase crua, às vezes com cara de demo.

É o caso do single “Bad Habit”, com um dos refrãos mais carismáticos da temporada (na simples repetição do verso “I wish I knew you wanted me”). Sua sonoridade é seca e calorosa, como na música ao vivo, no primeiro ato, até uma guinada na faixa que a leva para um lugar mais bem trabalhado, até mesmo pop. Steve chegou àquele lugar em que ele sabe ser eficaz na simplicidade e um tanto interessante no básico. Essa é a cara que Gemini Rights tem.

É preciso dizer, contudo, que mesmo com sua proposta bem executada (nos sentimentos expressos e na diversão de sua feitura), o álbum peca em esconder o refinamento que já vimos na obra de Lacy. Não é aqui que você ouvirá aquele grave arrastado em beats bacanas que ele faz com The Internet, ou a riqueza de timbres e ambientações de seu disco anterior (Apollo XXI, de 2019). Fica a impressão de que houve uma falha em combinar a intenção dessa obra com o que sabemos que ele tem de melhor.

Para compensar, ficamos com três faixas que se destacam cada vez mais a cada audição do álbum: oss singles “Mercury” e “Sunshine” (com Foushée)(ambos muito mais interessantes do que “Bad Habit”) e a balada “Give You the World”, que encerra a audição em um R&B charmoso e nostálgico. Essas músicas brilham em meio a um repertório ora bacaninha, ora espertinho de uma obra acima da média, mas, no geral, aquém do potencial de seu criador.

(Gemini Rights em uma faixa: “Bad Habit”)

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ARTISTA: Steve Lacy

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.