Assistir ao lançamento de um trabalho chamado Snowdonia, que expõe um iceberg na capa, vindo de uma banda com “sangue de surfista” tal qual a floridense Surfer Blood, é como antecipar uma espécie de melancolia glacial transformada em música. Por um lado, sim, este é o trabalho mais resignado da grupo até agora. De outro, no entanto, ele se enquadra na mesma linhagem da discografia do projeto, seguindo a mesma lógica sonora de seus antecessores.
Seja com a agressividade de Astro Coast, com o Rock Alternativo noventista de Pythons ou com o azeite tropical de 1000 Palms, Surfer Blood se manteve sempre fiel à sua sonoridade Indie, distorcida porém amigável, fazendo uma mescla de estilos que remetem a Weezer, The Drums, ou Alvvays. Snowdonia, no entanto, é marcado pela insistência do grupo, uma luta conformada que supera as intempéries pelas quais a banda passou – a morte de integrantes e familiares, roubos, e uma formação que precisa constantemente se adapatar às novas realidades – em nome da música que escolheram fazer.
Matter of Time, faixa introdutória, é a que melhor se enquadra na tradição musical da banda, angariando ouvintes graças a seu refrão pegajoso. Six Flags in F or G conta com uma introdução que une o Surf e o Hard Rock de maneira magistral. Snowdonia, a faixa título, por sua vez, é uma viagem de sete minutos que parece experimentar os vários estágios do luto, da revolta e da perda.
À sua maneira, Snowdonia consegue dar uma cara distinta – semelhante, mas com sua própria personalidade – ao trabalho do grupo. Encaixa-se perfeitamente como uma evolução natural na musicalidade da banda.
(Snowdonia em uma faixa: Six Flags in F or G)