Resenhas

Dinosaur Jr. – Green Mind

A persona desiludida e fatalista de J Mascis continua provando que ele é incapaz de se engendrar completamente pelos mecanismos do capitalismo

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Ano: 1991
Selo: Blanco y Negro, ‎Sire
# Faixas: 10
Estilos: Rock Alternativo, Noise, Indie
Duração: 42'
Nota: 4
Produção: J Mascis

O primeiro passo do Dinosaur Jr. pelos anos 1990 se deu em um contexto, digamos, bem menos inóspito do que aquele que reinava durante o lançamento dos três primeiros álbuns no fim da década de 1980. Externamente, além de a recepção dos discos ter sido boa, elevando o trio liderado por J Mascis a considerável prestígio dentro do circuito alternativo, o Grunge estava prestes a decolar e o clima para uma banda de Rock com guitarras potentes era, no mínimo, propício. Mas, mesmo assinando o primeiro contrato com uma grande gravadora, o Dinosaur Jr. lançou Green Mind em um ambiente, internamente, nada amigável. 

Pouco tempo depois da turnê que divulgava Bug (1989) terminar, as desavenças entre Lou Barlow e J Mascis haviam chegado ao limite, culminando na saída/expulsão do baixista, antes mesmo das gravações do trabalho seguinte começarem – Barlow imediatamente engatou o projeto Sebadoh. A relação entre Mascis e Emmett Murph, baterista da formação original do Dinosaur Jr., também já não era das melhores, e Murph toca apenas em três faixas de Green Mind. Então, é isso mesmo: Green Mind, o primeiro álbum do Dinosaur Jr. lançado por uma grande gravadora, é praticamente um projeto solo de Mascis, que assina também a produção e toca, além de guitarra, baixo e bateria em algumas faixas.

As incertezas – e a “urgência letárgica”, como a Rolling Stone classificou em uma resenha na época – do genial e temperamental músico transparecem em “The Wagon”, poderosa faixa de abertura do álbum: “There’s a way I feel right now/ Wish you’d help me, don’t know how/ We’re all nuts, so who helps who/ Some help when no one’s got a clue” (Há uma forma com que eu me sinto agora/ Queria que você me ajudasse, mas não sei como/ Estamos todos malucos, então quem ajuda quem?/ Alguma ajuda, quando ninguém tem a menor ideia”). Com solo virtuoso de guitarra, belos backing vocals em falsete e uma melodia pop, “The Wagon” – lançada no ano anterior pela Sub Pop – chegou ao 22º lugar da parada Alternativa da Billboard.

Por mais que, claro, Mascis mantivesse seu status de um dos heróis da geração slacker, em Green Mind, as composições sobre apatia e abdicação da “fome de vencer” no mundo capitalista ganham instrumentais mais ternos e desplugados (revezando com lampejos pesados e sempre indispensáveis de sua guitarra). “Puke +Cry” é baseada em violões acústicos e a dobradinha “Blowing It/ I Live For That Look” traz a mesma leveza sob baixo econômico, bateria alta e melodia doce, mistura semelhante àquela que o Smashing Pumpkins começava a cozinhar na época. Momentos como a singeleza de “Flying Cloud” – inteira no violão e com um baixo fantasmagórico, eventualmente, martelando as cordas – contrastam com a típica energia juvenil e a sujeira do Dinosaur Jr. em “How’d You Pin That One On Me”. 

A capacidade de Mascis de aliar sons que vieram antes dele àqueles que se anunciavam no horizonte é mais uma vez bem-sucedida aqui. “Water”, canção de amor que fala sobre compartilhar frustrações e salvações, traz uma bateria quadradíssima a lá Echo & The Bunnymen ou Joy Division servindo de cama a uma melodia dramática, típica do Emo noventista de Sunny Day Real Estate e The Get Up Kids. Em “Thumb”, com uma surpreendente flauta acompanhando a guitarra, Mascis canta “There never really is a good time/ There’s always nothing much to Say” (“Nunca é realmente um tempo bom/ Sempre não há muito o que dizer”). Em Green Mind, a persona inequivocamente fatalista e desiludida continuava, mas Mascis provou que, mesmo se aventurando solitário e incompreendido pelo mundo das corporações, ele ainda tinha, sim, muito o que dizer. E tocar.

(Green Mind em uma faixa: “The Wagon”)

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