Resenhas

Lowell Brams e Sufjan Stevens – Aporia

Clima de despedida, toques de trilha sonora, canções rápidas e improvisos marcam projeto colaborativo

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Selo: Asthmatic Kitty
# Faixas: 21
Estilos: New Age, Experimental
Duração: 40'

Aporia revisita a estética New Age com a qual Lowell Brams trabalhou em seu primeiro (e até então) único álbum, Music for Insomnia (2009). E, enquanto o novo disco serve como uma segunda incursão em sua discografia, Aporia marca também sua aposentadoria na música, já que ele se despede de suas atividades não só como compositor e produtor, mas também no comando do selo Asthmatic Kitty, que fundou ao lado do enteado Sufjan Stevens – sim, ele é o Lowell de Carrie & Lowell (2015).

E essas informações são capazes de explicar bastante o álbum. Afinal, estamos falando de um artista que cumpre o último dever em seu ofício e traz consigo o filho para garantir que seu legado siga vivo. Sendo assim, qualquer fã do sempre versátil Sufjan – que sabe ir do experimentalismo erudito ao Folk Eletrônico entre um lançamento e outro – não vai estranhar o território New Age que ele agora explora. Mas quem conhece a carreira de Brams reconhecerá que sua visão é a que dita o norte da obra.

Pois bem, Aporia traz uma coleção de 21 faixas, no geral bem curtinhas, que exploram experimentações dentro dos propósitos do gênero. Aquela New Age “clássica”, de cunho inspirador quase mágico e sobrenatural, é visitada em músicas que preferem desenvolver sons para causar essas sensações a trabalhar melodias e arranjos lineares. Tem um quê de trilha sonora, como uma ambientação onírica pela qual qualquer elemento pode percorrer, seja ele uma cena de filme ou uma imagem que criamos na mente.

“The Runaround” é a exceção no repertório. Após 16 músicas com esse cunho, a faixa surge com uma melodia mais específica e, para surpresa do ouvinte, ganha letra na voz de Sufjan em seu último minuto. O músico se mostra presente principalmente na escolha de timbres, em especial em sintetizadores e beats, e também durante algumas linhas melódicas que aparecem ao longo do disco. Lembra seu The Age of Adz (2010), mas se aproxima muito mais dos momentos grandiosos e dissonantes de seu instrumental The BQE (2009).

Vale dizer também que Aporia foi gravado com um material que os dois músicos desenvolveram durante uma jam. Ou seja, é um trabalho de edição e produção em cima de um conteúdo improvisado. Não poderia estar mais distante do que o trabalho meticuloso com que Sufjan entrega suas canções, deixando que a obra tenha sua identidade dentro do campo criativo e inquieto com o qual Lowell, imagino, quer ser lembrado. É a tal da “arte pela arte”. Um álbum de propósito encerrado em si mesmo, enquanto vemos um produtor aposentar as chuteiras sabendo que realizou mais um bom trabalho, e seu enteado com senso de “missão cumprida” ao acompanhá-lo.

 (Aporia em uma faixa: “Agathon”)

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Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.