Resenhas

VHOOR – Maré

Segundo lançamento do produtor mineiro em 2023 é uma breve e profunda jornada pelas sonoridades e transformações da natureza

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Ano: 2023
Selo: Aquecimento BR/Empire
# Faixas: 5
Estilos: Funk, Lo-fi
Duração: 10'
Produção: VHOOR

Quando se fala sobre os músicos mineiros, é difícil se manter no plano da realidade objetiva e não flutuar em direção à metafísica. Do canto xamânico de Clara Nunes, passando pela natureza espiritual do Clube de Esquina, até desembarcar no pop entusiasmado de Skank, temos demonstrações de como os mineiros têm talento nato para uma composição sensível. Isso não parece explicar tudo, mas, se há alguém que pode dar um passo adiante nessa discussão, é o DJ e produtor VHOOR.

VHOOR começou a ganhar destaque principalmente por conta de sua pesquisa sonora – que ao mesmo tempo redescobre sonoridades do passado e propõe novas estéticas. A colaboração com FBC no clássico contemporâneo Baile (2021) traz todo o respeito ao miami bass e ao funk dos anos 1990 e 2000, a partir de um revestimento moderno. Na produção, VHOOR tem um envolvimento muito grande com aquilo que pesquisa e isso aparece de forma ainda mais clara em seus trabalhos solos – particularmente na suavidade do Lo-Fi funk do EP Expirado (2023). É um envolvimento que vai além da referência e injeta emoção e novos sentidos.

Em Maré, o ouvido atento de VHOOR se volta para os cenários que fizeram parte de sua vida – não apenas as localizações físicas, mas a forma como elas existem dentro dele. Faixas como “Olinda” e “Jabó” (apelido carinhoso para a cidade de Jaboticatubas) são verdadeiras paisagens sonoras, evocando sons da natureza como elemento musical dentro de arranjos que juntam funk, baião e música afrodiaspórica. “O Rio” é um ótimo exemplo de como em pouco mais de 20 segundos uma história inteira é contada a partir dos sons da metrópole carioca. Já “Paraíso” aponta na direção de como até mesmo os lugares que não existem fisicamente não fogem à percepção do produtor – inserindo a batida de funk agressivo e distorcido dentro da suavidade de sua paleta sonora. Por fim, “Voo” propõe outro ponto de vista em relação à maré – sobrevoando e a vendo de fora, mas sentindo toda a sua força.

VHOOR é um paisagista sonoro no sentido mais amplo do termo. Seu olhar sensível aos cenários do Brasil e do mundo se junta a um ouvido atento que percebe os sons em suas diferentes esferas. A metáfora da maré vem para dar conta de representar essa imensidão de sons e sentidos – uma maré que, por mais suave que seja, nos atravessa.

(Maré em uma faixa: “Jabó”)

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ARTISTA: VHOOR

Autor:

Produtor, pesquisador musical e entusiasta de um bom lounge chique