Resenhas

Pet Shop Boys – Actually

Segundo álbum da dupla aprofunda o seu olhar crítico sobre a sociedade

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Ano: 1987
Selo: Parlophone
# Faixas: 11
Estilos: Disco, Pop, hi-NRG
Duração: 47'
Nota: 3.5
Produção: Stephen Hague, David Jacob, Julian Mendelsohn, Pet Shop Boys, Shep Pettibone, Andy Richards

Depois de alavancar a sua carreira meteoricamente com Please (1986), atingindo o topo das paradas do final dos anos 1980, o Pet Shop Boys via-se diante da necessidade de estabelecer o seu território definitivamente no Pop. Actually (1987) não abre mão do espírito dançante da dupla, mas, como o seu próprio título sugere, aprofunda o seu olhar crítico sobre a sociedade, falando sobre fama, sexualidade e a Inglaterra de Margaret Thatcher.

“One More Chance”, a faixa de abertura, cuja base eletrônica foi composta pelo produtor Bobby ‘O’, na verdade, havia sido originalmente destinada à Divine – famosa drag queen popularizada pelos filmes de John Waters. A correlação entre Pet Shop Boys e uma personagem tão emblemática quanto Divine suscita, mais do que um produtor em comum, algumas associações simbólicas que nos ajudam a entender o espírito de Actually. Embora a drag queen aposte no exagero e na escatologia como forma de expressão, trespassa sobre estes artistas um certo espírito inglês de inconformidade, marcado por uma ironia atrevida. Afinal, porque um disco de Dance Music, emotivo e confessional, exibe uma capa onde a dupla aparece vestida de roupa social e bocejando? 

De acordo com Tennant, “One More Chance” fala sobre “a idéia de ser perseguido por alguém – a máfia está atrás de você, como se você fosse um bode expiatório ou algo assim. Há um desespero. É realmente paranóia dos anos 1980 – havia muita paranóia nas letras Pop dos anos 1980”, já disse em certa ocasião. Apenas um ano havia se passado desde Please, e a desconfiança como forma de interpretação da realidade de Tennant e Lowe aumentara gradativamente o seu tom. Ou melhor, se Pet Shop Boys fazia alusões a determinados assuntos em Please, a dupla parece olhar para a sociedade de frente em Actually.  

“Shopping”, por exemplo, é um devaneio típico da música Pop, e fala sobre o prazer de fazer compras. Ainda maisem uma época, em que a atividade perdeu o seu status de necessidade e tornou-se uma atividade de lazer. Contudo, Pet Shop não perde a oportunidade de emplacar uma crítica ao governo, que privatizava suas indústrias nacionais. No mesmo espírito da época, “King’s Cross” fala sobre a pobreza, “It Couldn’t happen Here” sobre a AIDS, enquanto “It’s a Sin” comenta a normatização da culpa na sociedade cristã – o mesmo tipo de sentimento angustiante que associa à homossexualidade o pecado, explorado posteriormente em obras como Má Educação (2004), de Pedro Almodóvar. Nesse sentido, a dupla declarou: “quando este álbum foi lançado, muitas pessoas, incluindo nós mesmos, consideraram o álbum como sendo sobre o Thatcherismo.”

No entanto, assim como em Please, a dupla não abre mão de sua filosofia: a de entender o ato de festejar enquanto algo político. “What Have I Done to Deserve This?”, por exemplo, é um excelente marco dessa faceta, já que ressuscitou a carreira de Dusty Springfield, consagrando o seu papel de diva para a música Pop. Actually explora sem medo o mundo das transações emocionais, do amor como moeda de troca; mas aprofunda a noção de algo ainda mais complexo: a de que a música Dance funciona como a construção de um território simbólico, onde uma comunidade pode se reconhecer, e conviver como bem entende.

(Actually em uma música: “It’s a Sin”)

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ARTISTA: Pet Shop Boys
MARCADORES: Disco, Pop

Autor:

é músico e escreve sobre arte